Coisas que já não se usam

Antigamente nada se vendia embalado. Nas lojas existiam tulhas em madeira onde se colocavam os cereais que eram vendidos a peso.

O mesmo acontecia com o açúcar, café, especiarias, etc. Podíamos, por exemplo, comprar 250 gramas de açúcar que depois de pesado era colocado num cartucho de papel manteiga que era feito na hora.

Os sacos eram de serapilheira, ou de pano, ou de trapos, ou tecidos no tear,  e as garrafas ou garrafões eram de vidro.

Não existiam iogurtes e os primeiros que apareceram vinham em frascos de vidro que depois serviam como ventosas para tratar as dores.

O leite era vendido de porta a porta, não precisava de embalagem, e a  água estava na fonte e era transportada em cântaros de barro.

Não existia plástico. O primeiro produto a aparecer por aqui em embalagem de plástico foi o arroz. Os saquinhos do arroz eram lavados e usados para outras coisas.

Muitos objetos que fizeram parte da vida quotidiana dos nossos avós, hoje já não existem, porque tudo evolui, e porque os hábitos vão mudando também. Trazendo à memória alguns desses objetos pode dizer-se a quem se lembrar deles que “já não caminha para novo”.

Saias de Riscadilho

As mulheres usavam blusas de chita e saias de riscadilho. As saias eram de lã tecida nos teares e eram usadas  também para cobrir as costas e para proteger do frio a cabeça e os ombros.

Saia de Riscadilho de lã tecida num tear manual da Demó

Púcara

Usava-se para cozer feijões. Estava sempre na lareira encostada ao lume e tinha dentro feijões e água. Ia-se colocando água á medida que fosse preciso, até que os feijões estivessem cozidos.

Pucara para cozer feijões ao lume

Panela de Ferro

Era de ferro fundido, tinha 3 pés e servia para cozinhar ao lume.

Trempe

Suporte de ferro que se colocava na lareira. Para cozinhar colocava-se lenha debaixo da trempe, e acendia-se o lume. Os utensílios para cozinhar eram de ferro ou de barro.

Trempe para colocar as panelas em cima do lume

Batedor de Claras

Era para bater as claras em castelo.  Os garfos também serviam, colocavam-se claras numa tigela com um pouco de sal, e batiam-se com um garfo até que ficassem firmes; Mas estes batedores a manivela eram uma coisa muito mais avançada.

Batedor de claras

Picadora

Para fazer carne picada, fixava-se a picadora a uma mesa, colocava-se carne no reservatório em cima e dava-se à manivela até que saísse carne picada. Simples.

Picadora – para picar carne

Seringas

Eram de vidro e estavam guardadas junto com as agulhas numa caixa inox. As agulhas depois de devidamente esterilizadas e desinfectadas estavam prontas para a próxima utilização.

Bidé

Não existia casa de banho, pelo que o bidé normalmente estava no quarto, e era usado para a higiene pessoal.

Bidé

Lavatório

O suporte era de ferro e servia para colocar a bacia (de zinco), e a toalha. Como não existia água canalizada, por perto estava sempre um jarro (de zinco ou de loiça), com água.

Lavatório

Rodo e Pá do Forno

Todas as semanas o forno cozia pão, o rodo e a pá eram utensílios muito necessários.

Rodo e pá do forno

Alguidar para Amassar Pão

Objecto comum no dia a dia de outros tempos, servia para amassar o pão.

Alguidar para amassar o pão

Armário dos Queijos

Era de madeira e rede e servia para secar os queijos. Permitia a passagem do ar para que os queijos secassem ao mesmo tempo que os livrava das moscas.

Pipa

Vasilha grande de madeira que era usada para armazenar vinho.

Garrafas de Vinho

O vinho era comercializado em garrafas de vidro.

Garrafas de Refrigerante

Os refrigerantes eram comercializados em garrafas de vidro. Existia gasosa, laranjada e pirulitos. Só nos dias de festa é que se comprava uma garrafa de refrigerante, mas gasosa e laranjada era vendida nas tabernas, aos copos, como o vinho.

Ainda antes da RICAL

Pirulitos

Bebida gaseificada com gás carbónico, feita à base dum xarope com açucar, água, ácido cítrico e essência de limão. Era parecido com Seven-up, Uma garrafinha custava 10 tostões. A garrafa tinha a particularidade de fechar por meio de uma bola de vidro. No gargalo havia um aro de borracha onde encaixava a bola que era empurrada, de dentro para fora, pelo gás carbónico.

Depois de vazias, as garrafas dos pirulitos serviam como apitos, mas muitas vezes eram partidas de propósito para tirar a bola para as crianças jogarem ao berlinde. É verdade que também existiam pirulitos sem bola, mas não era a mesma coisa!

Cabaço

Servia para tirar água das pias.

Cabaço – Para tirar água das pias

Pias

Reservatórios em pedra que continham água para regar ou para dar de beber aos animais.

Pia (para dar de beber aos animais)

Argola para prender os burros pela arreata

Argola de ferro, cravada na parede, para prender os animais

Pião

O pião de madeira era envolvido com a cordina e depois era atirado ao chão, ficando a rodar o mais longo tempo possível.

Enfusa

Era uma jarra de cerâmica com asa, usada para transportar e armazenar água. O barro poroso não vidrado com o qual era feita, mantinha a água sempre fresca.

Enfusa

Louça Gateada

Quando se partia uma peça de louça, mandava-se arranjar, não se deitava para o lixo. A louça partida era gateada com grampos ou gatos de metal, e voltava a servir tão bem como antes. Nunca mais se partia.

Cabaça

Vasilha feita da casca da abóbora depois de seca. Servia para colocar dentro água ou vinho que se levava para o trabalho no campo.

Cabaça – Era para levar o vinho para a fazenda

Alqueire

Alqueire é uma medida agrária utilizada para sólidos. Usava-se para medir cereais.

Medidas: meio alqueire e quarta.

Buçal

Espécie de cabresto que se colocava nos burros para os impedir de estragar as culturas.

Buçal – servia para impedir que os burros comessem os produtos agrícolas

Foice

Ferramenta agrícola que servia para ceifar, ou seja, para a colheita de cereais. Também servia para cortar erva.

Foice

Podão

Tinha uma lâmina recurvada, maior que o cabo, e servia para cortar madeira. Também era usado para podar árvores.

Podão – servia para cortar lenha

Cebolão/Riscão

Um instrumento pontiagudo que tinha duas funções. Servia para matar os porcos, e nesta função tinha o nome de cebolão, mas quando chegava a altura de esgravulhar o milho chamava-se Riscão, porque servia para fazer uns riscos nas espigas por forma a fazer soltar os bagos de milho.

Cebolão ou Riscão. utensílio com duas funções: Como Cebolão servia para matar os porcos e como riscão servia para riscar o milho

 Pua

Ferramenta manual para fazer furos na madeira. Consistia numa armação de madeira ou aço , com local apropriado para prender a broca. Foi substituída pelos Berbequins.

Cama de Ferro e Colchão de Camisas

A mobília de quarto constava de uma cómoda em madeira e uma cama de ferro com um colchão de camisas de milho.

O soalho era de madeira e muito simples de limpar: Primeiro esfregava-se com uma escova e água e sabão. Depois de seco colocava-se cera e depois puxava-se o lustro com um pano seco.

Cama de ferros

Tanque

Era para lavar roupa. Quem não tinha um em casa lavava nos tanques do Lavadouro da Fonte.

O Tanque funcionava com água, sabão azul e branco e uma escova para os casos mais difíceis. Esfregava-se a roupa, durante o tempo que fosse preciso até que toda a sujidade saísse. Não havia lixivia nem detergentes. Para a roupa ficar branca, colocava-se depois de lavada numa bacia com água e cinza. Depois passava-se por água limpa e ia a corar ao sol. Ficava branquinha. Até que apareceu o OMO… e “OMO lava mais branco”.

Durante a década de 50 existiram até demonstradoras para explicar como é que se lavava a roupa com aquilo.

Na década de 60 o OMO ofereceu bastantes brindes, todos eles úteis para a vida de uma dona de casa, tais como cestos de roupa, panos de cozinha, um conjunto de louça em porcelana, etc.

Depois apareceram outras marcas de detergente…. eram todas uma espécie de OMO.

Ferro de Brasas

O ferro para passar a roupa era um utensílio em ferro que continha um reservatório onde se colocavam as brasas. Existiam vários modelos, uns para aquecer em cima das brasas, outros com um reservatório para as brasas.

Maçarico

Aparelho com um tubo pelo qual sai uma chama. Usava-se para chamuscar os porcos logo depois da matança.

Maçarico – Servia para chamuscar os porcos depois de mortos

O Tabuleiro das tripas

Era de madeira e usava-se na matança do porco. Dependurado o animal, abria-se com um golpe vertical no ventre e iam-se puxando e retirando as tripas (com muito cuidado para que não se rompessem) deixando-as deslizar para o tabuleiro, para irem a lavar.

Usava-se para lavar tripas, e não servia para mais nada

Chambaril

Servia para dependurar o porco morto, para depois se abrir e desmanchar.

Crivo

O crivo era para joeirar, ou seja para separar o que é bom daquilo que não é. Usava-se para limpar grãos: feijão, milho, grão de bico, etc.

Peneira

Do mesmo formato que o crivo, mas com uma rede mais fina, a peneira servia para peneirar a farinha separando-a do farelo.

Peneira

 Candeeiros a Petróleo

Vieram substituir as candeias de azeite. Eram fabricados em vidro e eram compostos por uma base com um depósito para o combustível, ao qual se sobrepunha uma cabeça metálica fendida que segurava a torcida, e na qual existiam três ou quatro molas que serviam para segurar a chaminé.

Candeeiro a petróleo

Tear

Era para tecer a lã. No tear faziam-se mantas, passadeiras, tapetes, sacos, alforges, panos de tabuleiro, etc. Ainda existe o tear da Mariana, nas Covas Altas.

O Tear da Mariana

Alforges

Eram tecidos nos teares, tinham duas bolsas e serviam para transportar mercadorias. Podiam ser colocados aos ombros ou nos burros por cima das albardas.

Vendedor Ambulante com o alforge. Vendia sementes à cornada. A medida era um corno de cabra.

Dobadoira

Servia para dobar as meadas de lã. Colocava-se a meada na dobadoira, pegava-se na ponta do fio e enrolava-se para fazer o novelo.

Dobadoura – Servia para dobar, isto é, fazer novelos de lã. Fazia parte da tecelagem artesanal

Rádio

Funcionava com pilhas, e dava musica, radionovelas, relatos de futebol, transmissões de Fátima e as notícias que o governo permitia.

Rádio Antigo – Em 1960 quando chegou a luz eléctrica ao Alqueidão, começaram a aparecer os rádios eléctricos, o que acabou com a audiência que costumava ter o único rádio a pilhas que existia na Casa da Sociedade, aquando das transmissões das cerimónias de Fátima.

Radionovela

Folhetim radiofónico transmitido em episódios. Antepassado das telenovelas.

Roldanas

Eram usadas para tirar água dos poços. A corda passava pela roldana e fazia chegar o balde de zinco dentro do poço onde se enchia com água, e depois puxava-se para cima.

Fateixa

Era de ferro, tinha o formato de uma âncora e servia para tirar os baldes que caiam para dentro do poço.

Cangalhas

Eram de madeira e colocavam-se em cima dos burros para transportar cântaros de água.

Canecos

Eram de plásticos substituíram facilmente os cântaros de barro. E o plástico começou a instalar-se…

Ratoeiras

armadilhas para apanhar os ratos que se enfiavam em casa, ou na adega.

Ratoeiras

As Novas tecnologias

Telefones

O Telefone de disco foi substituído pelo telefone de teclas.

Telemóveis

Em Portugal, os telemóveis começaram a implantar-se nos anos 90. No principio quando ainda funcionavam através de uma rede analógica, eram quase sempre instalados no carro, e  estavam praticamente reservados à classe política e empresarial, custavam entre os 3.000 e os 5.000 euros. Em 1991 a TMN entrou no mercado e um ano depois a Telecel, e nesta altura já se podia comprar um telemóvel por menos de 500 euros.

ZX Spetrum

E quando apareceram os primeiros computadores… eis o ZX Spetrum. Despertou milhares de miúdos portugueses para o fenómeno dos computadores, embora alguns apenas se limitassem a jogar. Os jogos eram carregados com um gravador de áudio. Era uma cassete para cada jogo. Ouvia-se o o som agudo do gravador de cassetes, apareciam umas riscas às cores no o ecrã do televisor, e o código LOAD“”…  Por vezes não carregava à primeira, nem à segunda, mas quando carregava era uma alegria.

Cassetes de áudio

Eram de plástico e tinham dentro uma fita magnética que ia rodando para se gravar ou reproduzir música. Serviam para guardar as nossas músicas favoritas, que eram gravadas das rádios, rezando para que o locutor não falasse até a musica terminar. Além disso, as cassetes de áudio também serviam para reproduzir os jogos do ZX Spectrum.

Cassetes de vídeo

Serviam para gravar filmes e telediscos que passavam na televisão, os nossos favoritos, para ver mais tarde.

E muitas outras coisas fazem ainda parte deste rol de coisas esquecidas….

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6 respostas a Coisas que já não se usam

  1. Carla Pires diz:

    Parabéns! Reencontrei a minha infância no Algarve. Neste tempo não havia lixo como há hoje, porque se reutilizavam todas as embalagens nos usos domesticos. O que sobrava como lixo era basicamente organico e ia para o que antigamente se chamava de estrumeira, que nada mais era que uma compostagem de onde depois se retirava o composto para fertilizar a horta ou hortelejo que todos tinham.

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  2. António Leite diz:

    Havia de haver mais gente a dedicar-se ao antigo, e a matar saudades…

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  3. Carla Santos diz:

    Acrescento que em casa da minha avó o “tabuleiro das tripas” era usado tambem, depois de muito bem lavado., para colocar o pao acabado de tirar do forno

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  4. Boa recolha. Ainda me lembro da grande maioria delas, do cheirinho da comida feita nessas panelas e da frescura da agua dos cantaros.

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  5. Fernanda Saragoca Franco-Ferrara diz:

    Que grande recordações! Obrigada 🙏

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  6. SUSELI APARECIDA DOS SANTOS PEREIRA diz:

    Uma bela viagem de conhecimento…

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