Lourenço da Costa
22 de Julho de 1873 – 18 de Março de 1950
Lourenço da Costa nasceu às 6 horas da manhã do dia 22 de Junho de 1873 em Alqueidão da Serra, e foi baptizado no dia 10 de Agosto do mesmo ano, na Igreja Paroquial desta freguesia pelo padre Manuel Afonso e Silva.
Era filho de João da Costa, (mais conhecido pelo Juiz) e de Ana da Silva (Guia), ambos naturais de Alqueidão da Serra.
Era irmão de Maria Filomena Silva Amado, e Adelaide da Silva Costa Assis.
Lourenço da Costa nunca casou, e a sua Irmã Adelaide que era casada com Frederico Augusto Xavier de Assis, teve um único filho que faleceu ainda criança.
Talvez por isso todas as suas atenções eram voltadas para os filhos da sua irmã Filomena, que eram Guilhermina Amado Gabriel, João Amado, Ermelinda Amado e Adelaide da Silva Amado.
Aos 12 anos de idade partiu para Lisboa, a convite da sua madrinha D. Felismina de Jesus Patricio da Silva Garcia Alves.
Tinha apenas a 4ª classe quando ingressou na Escola Artur Navarra onde concluiu, com alta classificação, o curso de enfermagem.
Foi admitido por despacho de 17 de Novembro de 1891 como “Ajudante de Enfermaria”, no hospital de Rilhafoles, (que depois se chamou Hospital Miguel Bombarda).
Por despacho de 22 de Junho de 1892, passou ao serviço do Real Hospital de São José, como “Praticante de Enfermaria”, sendo, em 16 de Abril de 1893 transferido para a Casa de Assentos.
Nomeado “Ajudante de Enfermaria”, foi colocado nos “Quartos Particulares” por despacho de 2 de Dezembro de 1901.
A 10 de Dezembro de 1904, e em comissão de serviço, desempenhou as funções de “Preparador”das 1ªs e 2ªs Secções do Laboratório de Análises Clínicas do hospital de São José. Em 20 de Dezembro de 1906, foi transferido, a seu pedido, para o quadro do pessoal de enfermagem a que pertencia, continuando em comissão de serviço como “Preparador”.
Promovido a “Enfermeiro” por Despacho de 2 de Janeiro de 1906, foi novamente colocado nos “Quartos Particulares” em 26 de Dezembro de 1906.
Por despacho de 26 de Janeiro de 1915 foi nomeado “Ajudante do Fiscal” privativo do hospital do Rego, mais tarde denominado de “Curry Cabral”.
Em 20 de Dezembro de 1916, começou a servir como Ajudante de Fiscal Geral, sendo-lhe dada a nomeação pela Ordem de Serviço nº 186 de 20 de Janeiro de 1917.
Passou depois a Fiscal Privativo do hospital de São José, cumulativamente com as funções decorrentes do que se refere no parágrafo anterior.
Em 1918, na altura do fim da primeira guerra mundial, alastra uma epidemia de doenças infecciosas: Gripe, broncopneumonia e tuberculose.
A afluência de doentes foi tão grande que os hospitais ficaram superlotados: foi então ordenada a utilização das escolas como hospitais.
Deste modo, em Outubro de 1918 Lourenço da Costa foi encarregado da fiscalização do hospital instalado no liceu Camões.
O seu trabalho foi muito elogiado pelo seu director que via no Fiscal Costa um elemento de grande valor, dentro as suas aptidões profissionais, era um trabalhador metódico e muito organizado.
Apesar de conhecer o grau de contagio de que a broncopneumonia gripal é dotada, não hesitou nunca no cumprimento dos seus deveres, honrando assim a instituição onde trabalhava.
Em 11 de Março de 1929 foi distinguido, pelo Governo da Republica, através do Ministro do Interior, com a Cruz Vermelha da Dedicação, pelos bons préstimos e serviços.
Por Alvará de 31 de Dezembro de 1938, foi nomeado Fiscal Geral.
Ao longo da sua carreira hospitalar de mais de 50 anos de serviço, vários foram os louvores que recebeu, e que se transcrevem seguidamente:
Em 20 de Dezembro de 1906, ainda como preparador de Análises Clínicas, o director do laboratório informa que “foi sempre um empregado zeloso, inteligente, disciplinado e disciplinador, mostrado a maior dedicação pelo serviço. É um empregado modelo”
Tem informação prestada em cumprimento da Ordem de Serviço nº 303 de 17 de Dezembro de 1912, relativamente às qualidades do pessoal das enfermarias.
O director dos Quartos Particulares informa que “È um empregado óptimo que reune todas as qualidades”
Em 18 de Fevereiro de 1914, a mesma informação do mesmo Director.
Em 26 de Janeiro de 1915, quando da sua mudança de categoria de enfermeiro para Ajudante de Fiscal privativo do Hospital do Rego, o então Director dos Hospitais Civis de Lisboa Dr. L. Magalhães da Fonseca, prestou a seguinte informação: ” Reconheço qualidades, inteligência, e carácter que o recomendam para o difícil cargo de Fiscal.”
Pela Ordem de Serviço nº 2007 de 15 de Junho de 1938, emitida pela então Direcção Geral dos Hospitais Civis de Lisboa, foi louvado por fazer parte da Comissão Organizadora duma enternecedora festa para os doentes, realizada nos Claustros de São José, por iniciativa de Sua Excelência a Ministra da Bélgica, onde demonstrou carinhoso zelo e dedicação.
Em 8 de Outubro de 1938, em ordem de serviço nº 2040, teve o seguinte louvor: “Porque este dedicado funcionário, nos seus cargos de Ajudante de Fiscal Geral, e ultimamente como Adjunto do mesmo, durante mais de 21 anos tem dado sobejas provas de muito zelo na defesa dos interesses da Fazenda Hospitalar, a par de uma carinhosa dedicação pelos doentes, e pelo pessoal sob as suas ordens, a Instituição é-lhe por isso devedora de assinalados serviços, que me apraz consignar aqui, ao mesmo tempo que lhe confirmo o merecido Louvor”.
Em 28 de Março de 1939, pela Ordem de Serviço nº 2104, foi novamente louvado “pelo muito zelo e dedicação que põe ao serviço dos Hospitais Civis de Lisboa”.
Por último, ao atingir o limite de idade, foi louvado mais uma vez pela Ordem de Serviço nº2471 de 23 de Maio de 1942, subscrita pelo Exº Enfermeiro-Mor Coronel João Nepomuceno de Freitas, que a seguir se transcreve:
“Sendo hoje desligado do serviço para efeitos de aposentação, o Fiscal Geral, Senhor Lourenço da Costa , é com grande mágoa que os Hospitais Civis veêm afastar-se um empregado que durante mais de 50 anos pôs ao serviço desta Instituição, toda a sua inteligência e dedicação. Eu tive neste prestimoso funcionário, um dedicado amigo e colaborador, e por isso, na ocasião em que abandona o serviço, cabe-me, em nome dos Hospitais, prestar homenagem ao Fiscal Geral Senhor Lourenço da Costa, louvando-o pelo muito zelo, dedicação e inteligência com que desempenhou, durante tão largo espaço de tempo as delicadas funções dos cargos que ocupou.
Foi aposentado, sendo-lhe contados 50 anos de serviço, e a referida aposentação veio publicada no Diário do Governo nº 120 de 23 de Meio de 1942.
A Bem da Nação
O Administrador Fernando Pimenta”
Terminado a sua vida activa na cidade de Lisboa, voltou para o Alqueidão da Serra.
De regresso à terra natal, revela-se um homem exemplar e digno de respeito. Era estimado por todos, apesar de ser homem de poucas falas.
Passava pelas ruas e casas com um olhar observador, e sempre que avistava crianças atirava-lhes goloseimas.
Percorria o Alqueidão de bengala na mão e com o seu estojo de enfermeiro, acorrendo aos pobres e doentes que tratava com um carinho especial
Também se encarregava das vacinas no dispensário materno infantil do Alqueidão. Aqui é que a garotada tinha medo dele, mas ele tinha um jeito especial para distrair as crianças. Deixava-as brincar com caixas de medicamentos, enquanto dava a vacina num piscar de olhos.
Mas não se dedicou apenas à enfermagem: sempre que podia ou lhe era solicitado, dava concelhos e como amigo do povo sentia as suas dificuldades procurando resolve-las.
Também dava valor ao património e incitava sempre as pessoas a preserva-lo. Deu dinheiro para que o lavadouro da fonte fosse reconstruído, pois tinha sido totalmente arrasado pelo forte ciclone de 15 de Fevereiro 1941.
Lourenço da Costa tinha todas as virtudes de um bom católico mas não frequentava a igreja e naquela altura isso era considerado muito importante. As pessoas diziam: «Que pena, um homem tão bom, e não vai à Igreja!»
Anos mais tarde, dizem que a sua sobrinha, com quem vivia, a Tia Ermelinda, o converteu e ele passou a ir sempre à missa, acabando por tornar-se ele próprio, um exemplo para os outros.
Foi tal a alegria da sua conversão que lhe ofereceram um lugar especial na Igreja: Uma cadeira com genuflexório. Mesmo após a sua morte, a cadeira ainda lá permaneceu vazia durante uns anos, até serem feitas as obras na igreja. Mas durante todos esses anos, ela foi sempre apontada como «a cadeira do Fiscal Costa».
Não havia família no Alqueidão quem não lhe devesse um favor, não havia pobre ou doente a quem ele não tenha dispensado todos os seus cuidados.
Foi incansável, sacrificava muitas vezes a sua saúde levantando-se às 5 da manhã para acudir aos seus doentes. Todos eram tratados de igual modo sem olhar a posições sociais ou crenças.
A sua vida não se resumiu em ganhar dinheiro pois ele não cobrava a ninguém os seus favores. Não era um santo, mas era um santo homem.
Lourenço da Costa morreu a 18 de Março de 1950, com 76 anos e encontra-se sepultado no cemitério do Alqueidão. Infelizmente não se sabe o local e este não possui uma campa.
Nunca poderá ser esquecida a sua constante lida e preocupação ao percorrer as ruas da nossa terra de porta em porta, malinha na mão acudindo aos pobres e aos doentes por quem tinha uma excepcional dedicação.
Noticia do falecimento do Fiscal Costa:
H O M E N A G E N S
O Jardim do Fiscal Costa fica situado na Rua A-do-Ferreiro, foi construído em 2001, e lá se encontra um monumento com o busto de Lourenço da Costa que foi oferecido pela Junta de Freguesia.
O Largo Lourenço da Costa fica na Estrada de Porto de Mós. Este sitio ficava a caminho da casa onde vivia Lourenço da Costa, e era lá, sentado numas grandes pedras que o Fiscal, depois de reformado, passava grande parte do tempo.
DG2010