A cultura do trigo foi uma das cultura mais típicas e importantes no Alqueidão da Serra na década de 60. Era uma espécie de ritual em que se misturavam os trabalhos com a confraternização e a alegria.
Começava logo com os preparativos na véspera do dia da sementeira em que se tratavam dos bois, se cuidavam das alfaias, arados grades, enxadas, etc.
Faziam-se sementeiras individuais e colectivas. As individuais eram as mais pequenas em que um só agricultor intervinha. As colectivas eram aquelas em que vários vizinhos, ou amigos ou familiares combinavam fazer uma sociedade, e no fim das ceifas, debulhas e divisão das colheitas, tudo terminava em festa.
As debulha era um trabalho penoso. Começava-se a estender o trigo na eira para a palha se tornar mais áspera e deste modo se debulhar melhor. Na hora mais quente do dia traziam-se os animais domésticos, burros, bois ou cavalos que andavam às voltas na eira até a palha do trigo estar bem triturada e o grão separado.
O período de trabalho dos animais era muito divertido, pelo toque dos animais, com arre, arre, acompanhado de gargalhadas sem fim, por causa das reacções expontâneas de cada viradela no calcadoiro.
Depois de tantas voltas que o gado dava, e depois de o calcadoiro ter sido virado algumas vezes, primeiro com forcados e depois com forquilhas, o gado saía, e começava então a faina de separar a palha do trigo, atirando a palha ao ar.
Uma vez separada a palha, começava-se a limpar o trigo com a pá. Por fim o trigo era medido, para ver o rendimento do trabalho. Era costume rezar antes de se começar a medir o trigo.
Com o passar do tempo, na altura de limpar o trigo começaram a usar-se umas máquinas artesanais de madeira, puxadas por uma junta de bois. Depois apareceram as debulhadoras mecânicas, e chegaram finalmente as mecanizações tanto para as sementeiras como para as debulhas.
Assim morreu a tradição histórica, musical e de fraternidade que era a debulha.