No século XIX as crianças eram registadas só com o primeiro nome. Como os nomes eram todos iguais, com a passar do tempo adquiriam alcunhas, isto é, nomes pelos quais eram conhecidos, e que refletiam alguma característica sua, de maneira que os nomes de Batismo quase ninguém os sabia.
Ainda hoje existem alcunhas que passam de geração em geração.
Balugas
O Xico Balugas herdou a alcunha do pai, a quem chamavam Balugas. O filho mais novo do Xico Balugas, o Rafael, também toda a gente o conhece por Balugas e o neto também não conseguiu fugir a esta alcunha. O bisneto, o pequenito que anda na pré-escola também já lhe chamam o Balugas.
E como foi que tudo isto começou?
Em 28-06-1868 no Alqueidão da Serra nasceu Manuel Carvalho que era filho de João Carvalho e Maria de Jesus, (Maria Carvalha).
Era um homem alto e magro (e talvez por esta característica física lhe começaram a chamar Balugas) e que gostava muito de falar e era muito alegre. Tinha alguma dificuldade para andar, e por isso deslocava-se quase sempre de burro, de resto andava amparado a uma muleta. Trabalhava na agricultura. Ia muitas vezes à Ribeira cavar vinha.
Casou aos 32 anos com Maria do Rosário que era filha de Domingos da Silva Martho e Francisca Carvalha. O casamento foi no Alqueidão da Serra em 11-02-1900.
Em 29-10-1900 nasceu a primeira filha, Maria do Rosário que, tal como a mãe não tinha mais nenhum apelido. No registo do Batismo desta menina, em 4-11-1900, o nome do pai é Manuel Carvalho Balugas, ou seja, a partir daqui Balugas é apelido e aparece nos livros dos registos oficiais.
O segundo filho, o José, nasceu em 25-08-1903, foi batizado no mesmo dia e faleceu logo a seguir. Mas, em 19-09-1904 nasceu outro menino e também lhe deram o nome de José. Já o José tinha 7 anos quando nasceu o Francisco.
Maria do Rosário, José e Francisco foram os nomes que eles escolheram para os seus filhos, no entanto, isso não interessava nada porque toda a gente os conhecia era pelas alcunhas.
Assim o Francisco ficou Xico Balugas, e o José ficou Zé Magota. A Maria do Rosário ficou Rosaira, que é bem mais fácil de dizer.
O Xico Balugas
O Xico Balugas (Francisco Carvalho) veio a casar com a Maria do Coxo, que, na realidade se chamava Maria Amado, mas quase ninguém sabia.
Quem era a Maria do Coxo?
Nasceu em 17-04-1910 no Zambujal, onde moravam os seus pais, Manuel Catarino (que era dos Vales) e Joaquina Amado.
Quando casou com o Xico Balugas veio morar para o Alqueidão, pertinho da Igreja.

Tiveram 6 filhos, e todos eles eram conhecidos pelas suas alcunhas.
- Dois bebés morreram.
- A Deolinda (chamavam-lhe Violeta) morreu com sete anos, atropelada pela camioneta da carreira na estrada de Porto de Mós, perto do Zambujal, quando seguia com outras pessoas atrás de uma carroça, e atravessou a estrada de repente.
- A Laura (Pirralha), faleceu em 02-07-1990.
- O Manuel, conhecemo-lo por “o Roque” porque ele gostava de correr atras da carreira (camionagem Roque e Alcobia), segurava-se nas traseiras e pulava na próxima curva. Faleceu em 14-08-2003.
- O Rafael, ou seja, o Balugas, é o pai da Patricia e do Bruno (que também é Balugas).
A próxima geração: O neto do Rafael (Balugas) também é Balugas. E assim desde 1868, a alcunha vai atravessando as gerações.
************************ ******************* **********************
Consultas: Livro de Registos de Batizados, Casamentos e Óbitos do Cartório Paroquial do Alqueidão da Serra.
Agradeço a toda a gente que perdeu um pouco do seu tempo para me ajudar partilhando as suas memórias: Ao Armando da Ti Rosaira que está na França e à sua filha Adélia; Ao Rafael e à Carmita; à Célia; e à Ana Maria que está na França e que disponibilizou a fotografia.
Adoro ler a história da minha família. Já a li vezes sem conta e não me canso.
Obrigada Dulce
GostarGostar
Muito obrigado Dulce por teres contado a história do meu avô. Gostei muito.
Ana Maria
GostarGostar
Muito obrigado
GostarGostar