O Major

Chamava-se Manuel Pereira e, nasceu na Carreirancha em Alqueidão da Serra no dia 9 de Outubro de 1906, e  sempre foi conhecido por “João Major”.

Nasceu no seio de uma família muito amiga. O seu pai Manuel Pereira, veio da Santa Casa da misericórdia, (pelo que se torna difícil saber quais foram os seus ascendentes), e a sua mãe Emília Laranjeiro, era natural da Carreirancha.

Em criança guardou gado. Contava que a 13 de Outubro de 1917, enquanto pastava cabras na Serra da Andorinha, viu o Sol muito diferente. Podia olhar para ele sem qualquer dificuldade. Pouco tempo depois, espanhou-se a noticia que os 3 pastorinhos e muitos peregrinos tinham assistido a essa mesma hora ao Milagre do Sol na Cova da Iria, em Fátima.

Nunca foi à escola, mas aprendeu a ler e a escrever com um Padre que lhe deu algumas lições. Tinha uma belíssima caligrafia.

Quando era jovem, o Ti Mareco ensinou-lhe o oficio de Alfaiate.

Aos 23 anos casou com uma rapariga de 19 anos que se chamava Maria Rosa, mas que toda a gente conhecia por “Leonor”. O Ti Mareco foi o padrinho do casamento.

Foram viver para casa dos pais da noiva que era filha única.

Tiveram 16 filhos, seis dos quais morreram ainda crianças, e ainda acolheram uma menina por sua mãe ter morrido durante o parto. A menina chamava-se Conceição Costa e fez parte da família até completar dois anos de idade. 

Para sustentar a sua grande família, o Ti Major trabalhava na agricultura, e tinha também o oficio de Alfaiate, que desempenhava na perfeição. Foi mestre de 3 discipulos: Albertino e José, que eram seus filhos, e o outro era um rapaz bastante baixinho e doente, a quem chamavam “Zé Mocho”.

O trabalho de Alfaiate não dava muito dinheiro, e a saúde também começou a faltar, pelo que se viveu um tempo de grandes dificuldades.

Por volta dos anos 1947/48 as crianças mais velhas foram trabalhar para a fábrica dos Justos em Mira de Aire, para ajudar nas despesas da casa.

Por volta do ano de 1951, Maria Rosa que era a única filha de Manuel Ribeiro e de Leonor, recebeu uma herança duma tia que não teve filhos.

Nesta altura a situação começou a melhorar um pouquinho. O rebanho dava leite queijos, a lã das ovelhas era vendida. Já não era uma sardinha para quatro, mas o Ti Major nunca deixou de agradecer aos amigos que o ajudaram nas alturas mais difíceis da sua vida.

O Ti Major era também o cozinheiro nos casamentos. Era uma pessoa muito divertida, e contava sempre com a ajuda da ti Miana.

Nos casamentos havia sempre bailarico, e eles faziam lá as suas palhaçadas. Esta faceta era característica do Ti Major. Quando os filhos era pequenos brincava com eles pondo um em cada joelho e  tocava musica com a boca. Era uma animação!

Hoje, um dos seus filhos é dono de um Restaurante em Alqueidão da Serra, é o “Restaurante O Major  – Sociedade Unipessoal, Lda” que fica situado na Borda da Ladeira, junto à rotunda do Major.


Embora fosse bastante dedicado à sua família, não deixou nunca de olhar para as necessidades das pessoas que o rodeavam.

Apercebendo-se das dificuldades que as pessoas tinham em se deslocar até aos terrenos que tinham que cultivar na serra, ou até mesmo às localidades vizinhas, pôs mãos à obra, juntou toda a gente que quis colaborar com o seu trabalho ou com materiais, e começaram as obras.

Toda a gente colaborava. O ti major organizava cortejos, festas (no largo das Calhandreiras), peditórios, etc.  E ele mesmo corria a aldeia toda a fazer a recolha dos donativos.

A primeira estrada que ajudou a construir foi a que vai da Carreirancha até aos Bouceiros.  Formou uma pequena equipa liderada por ele, pelo Rita, Mariola e ti Zé Catalão.

De inicio, não sentiram muita aceitação por parte da gente da terra. Pensavam que seria algo impossível de conseguir. Contudo a força de vontade destes homens persistiu e pouco a pouco foram conseguindo a confiança das pessoas.

O Ti Major andou de porta em porta a conquistar toda a gente que podia, incluindo senhoras, que deram um dia por semana à obra, trabalhando ao lado dos homens. Quanto mais os resultados iam aparecendo, mais interesse as pessoas manifestavam. Até que pediram ajuda ao presidente da Junta de Freguesia e à Câmara de Porto de Mós. O entusiasmo foi contagiante. 

Baixo relevo, da autoria de Francisco Furriel, Homenageando os homens que às suas custas rasgaram e construíram a estrada que liga Alqueidão da Serra a Bouceiros. Que não existia. Aqui também esteve bem presente a acção do P. Américo,José Catarino e António da Laura. Tudo partiu de uma reunião da Acção Católica.

Na nossa memória colectiva ficará para sempre gravado o empenho do Ti Major e de todas as pessoas que a ele se juntaram e tornaram possível a conclusão das obras:

O Padre Américo que apelava aos paroquianos ajuda aos homens na obra;

O Presidente da Junta de Freguesia, que na altura era o Sr. António Carreira;

O Marinha (José da Silva Catarino) que foi incansável no seu apoio ao Ti Major;

 

Os emigrantes que mesmo estando longe, contribuíram com a sua ajuda material;

Todas as pessoas que activamente participaram nas Festas organizadas pelo Ti Major no Largo das Calhandreiras, com vista a arranjar dinheiro para  as obras .

E ainda o deputado Silva Marques com quem o Ti Major falou várias vezes,  e que possibilitou o apoio da Câmara Municipal de Porto de Mós.

Com a colaboração de Fetal e Fátima (filha e neta do Major)
Esta entrada foi publicada em Biografias. ligação permanente.

Uma resposta a O Major

  1. Maria Adélia diz:

    Os anos passam ! as recordaçoes essas fazem parte da exestencia de quem as vive de perto gostei muito.

    Gostar

Obrigado pela visita. Volte sempre!

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s