o Jogo do Pau

Nos tempos em que o cajado se considerava, além do mais, uma arma de defesa ou de ataque, o Alqueidão gabou-se de ter um numeroso e bem treinado grupo de jogadores de pau que fazia suas exibições em feiras e festas, quando preciso ou conveniente.

Os paus obtinham-se de um bom ramo de qualquer árvore, menos de sabugueiro ou de outra semelhante no miolo. Os melhores e os mais bonitos eram os de marmeleiro.

Para a preparação destes cortava-se a pernada ou ramo e, ainda verdoengo, era metido no forno da amassadura quando este se mostrasse bem quente.

Desta operação resultava não só a facilidade da descasca, mas também, o endireitamento de alguma curvatura que tivesse em qualquer parte. Antes porém, de ir ao calor, procedia-se à esfrega de todo ele com borras de azeite.

Tirada a casca sem arranhões na madeira, novamente era oleado, agora com azeite, e friccionado com intensidade até ficar luzidio. Se, porventura, existia nele qualquer pequeno lombo, depois de sair do forno, era colocado sob o peso de objecto que, pouco a pouco, o levasse a corrigir o defeito.

Pau de marmeleiro que levasse todas as devidas voltas, chegava a ser uma obra de arte. Quer por causa da cor natural que tinha e que a fricção oleosa reforçava, quer por causa das muitas e diferentes nodosidades que o inçavam de alto a baixo. Isto, para não falar dos enfeites com que podia ser encimado e do partido que se podia tirar da ferragem que muitos lhe punham na parte inferior.

Com este instrumento de defesa e de ataque se exercitava o grupo. Os treinos faziam-se ao domingo, sob a direcção do “mestre”, em terrenos situados na Abegoa, sempre que o tempo e as condições do local o permitiam.

No dito grupo figuravam alguns que, devido aos aturados exercícios bem como ao seu jeito natural, atingiram tal grau de perfeição que chegaram a gozar de grande fama. E de proveito também. Foi o sucedido com aquele que, em terras alentejanas para onde fora, em grupo, na maré da ceifa, teve a sorte de a sua fama de jogador de pau subir aos ouvidos do patrão, por tal sinal, muito interessado em aprender o dito jogo.

Feita uma ligeira prova, que agradou em cheio, viu-se contratado para o ensino das suas reais habilidades técnicas e das manhas, que faziam parte do seu estilo. Da contrata fazia parte o direito a receber a jorna dos ceifeiros em troca das “lições” que o patrão desejasse, dentro das horas e dias de trabalho braçal.

Em fim de contas, tão agradado ficou o “aluno” como o “professor” que o tratado continuou em vigor para o ano seguinte, nas mesmas condições!

Embora se trate dum jogo que desperta viva curiosidade e empenhado interesse, tanto no assistente como no jogador, (pelo que exige ginástica, rapidez, rigor de movimentos e prontos reflexos psicológicos) ele perdeu sua voga na Freguesia.

Há mais de 80 anos que ninguém o pratica. Ninguém conhece as regras mais elementares que o jogador tinha de seguir. A grande maioria das pessoas ignora o desenvolvimento que o jogo teve algum dia na freguesia de Alqueidão da Serra.

Actualmente este jogo é apresentado nas actuações do Rancho Folclórico Rosas do Lena -Rebolaria –  Batalha

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