FORNECOS. Por este nome se conhece o lanço de terreno situado do lado direito de quem vai para Leiria, o qual principia quando se acentua o declive da estrada.
Sendo uma área que abrange milhares de metros quadrados não há marcos a dividir. Termina, onde começa a zona do Barreiro da Laija, na parte do Norte, sendo irrealizável determinar a estrema pelo Nascente.
- E porquê Fornecos?
A palavra deriva de dois elementos: “forno” a que se liga o sufixo “eco”, depois de suprimido o “o” final do primeiro.
A primeira parte escusa qualquer explicação. Naquela zona existiam alguns dos fornos em que no Alqueidão se cozia a deliciosa broa amarela e o pão branco e fofo. Quanto ao sufixo “eco”, ele usa-se com muita frequência no Alqueidão.
Emprega-se como depreciativo e como diminutivo. Fala-se num “almoceco” se a comida ainda deixou um buraquito no estômago, diz-se um “burreco” se o jerico é fraco ou pequeno ou uma “chuveca” se, quando se sente a falta de água, a chuva pouco mais fez que apagar a poeira.
“Forneco” tem de ser inevitavelmente um forno pequeno. O tempo encarregou-se de provar que o nome tinha correspondência com a realidade, pondo à luz do sol um “forneco.”
Quem o achou foi João Vieira Pedro, ou João Gancho, da Carreirancha. Amanhava ele uma propriedade sua, por sinal, a razoável distância dos Fornecos propriamente ditos, visto que é no sitio da Cumeira.
Num ponto dessa fazenda que nunca tinha sido cavado, a certa altura dos trabalhos as pontas da enxada batem e soa a oco. Na segunda cavadela a enxada traz à superfície algo que tinha um aspecto diferente do resto do terreno.
Com isto decidiu-se a arrancar a parte superior, escava em redor, e começa a aparecer uma coisa em forma de abóbora. Continua a desenterrar a construção, e o que se lhe depara é um forno como os da serventia doméstica, com a diferença de ser muito mais maneirinho.
Alvoraçado com tão inesperada surpresa e já na insofrida ânsia de se ver na posse de alguma panela de libras ou de tesouro que talvez as Moiras ali tivessem escondido, trata de ver o que haveria sob aquela abobadada estrutura.
E consegue-o facilmente, mas nem lhe passou pela cabeça a importância do achado relativamente ao passado histórico ou lendário do Alqueidão.
Em pouco tempo, do forneco, existia o local; e por ali perto, o que se via eram restos de peças que entraram na sua construção, diversamente fracturadas.
Tratava-se de pedaços de greda e de barro avermelhado, em diversos feitios e com espessuras diferentes.
Resulta daqui que o forneco não foi estudado por nenhuma entidade competente nem sequer fotografado por simples curioso, e dentro dele não se encontrava nenhum tesouro escondido.
Bem interessantes estes textos sobre a nossa terra.
Mas, ó Dulce, já que o João Gancho é do nosso tempo (do meu, pelo menos), não seria de incluir no texto sobre o achado do “forneco” uma marca temporal, do género “segunda (ou primeira) metade do século xx”?
Vejo também que manténs a grafia da pronúncia local de “Laija”…
Parabéns pelo teu trabalho.
Um abraço
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