Realizava-se na década de 50, sob a orientação da Acção Católica Portuguesa, a Festa da Família Agrária. Era então pároco o Padre Manuel Ferreira.
Esta festa tinha por finalidade levar o agricultor junto de Deus, para agradecer tudo o que a terra produzia.
No ano de 1956 esta festa ocorreu no dia 10 de Maio, (quinta-feira da Ascenção, o dia litúrgico indicado para esta festa) e teve um brilho especial uma vez que se realizou em conjunto com a freguesia de São Mamede.
Juntaram-se os párocos das duas freguesias e pediram autorização ao Sr. Bispo, que autorizou e abençoou esta iniciativa.
O local escolhido foi “as lagieiras da Carrapatosa” por ser o mais central para as duas freguesias, embora ficasse distante e o caminho fosse bastante agreste.
Começaram os preparativos para a parte espiritual e recreativa. Na preparação da parte material do ofertório o desânimo era visível porque com quase um mês de chuva e frio as sementeiras ainda davam poucos sinais de frutos, mas por fim lá apareceram os primeiros frutos para oferecer em homenagem ao Senhor.
Para a parte recreativa ensaiaram-se cânticos, poesias, estudavam-se os discursos, cada um tomava conta do trabalho que lhe foi confiado.
O Daniel e o Manuel Pereira tomaram a seu cargo o transporte da aparelhagem sonora, e o Carlos Saragoça encarregou-se levar as peças do Altar, estes seguiam muito mais devagar que as outras pessoas.
O encontro estava marcado para o meio dia. Às onze e meia chegaram o altar e os altifalantes. Escolheu-se o local, e o altar foi armando em cima de um alto penedo saliente ficando bem à vista de toda a assistência.
Começou então a Santa Missa na qual o celebrante foi o nosso pároco, tendo o pároco de São Mamede ficado ao microfone a orientar os cânticos. Depois da homilia seguiu-se um coro falado composto especialmente para esta festa, e o ofertório no qual tomaram parte os organismos da Acção Católica e o restante povo, fazendo a oferta do que cada um tinha.
A missa terminou com uma breve Acção de Graças, e deu-se um intervalo de duas horas para a merenda, ao que se seguiu o leilão das ofertas.
Foi por volta das quatro horas da tarde que se iniciou a parte recreativa com “A Marcha dos Organismos Agrários” cantada por toda a multidão em anfiteatro pela encosta da serra rodeando o palco adaptado numa pequena planície.
Falaram os dirigentes das duas freguesias, entre os quais o presidente da L.A.C do Alqueidão que desenvolveu o assunto “O que é que se pretende que seja a Familia Agrária”. O presidente de São Mamede falou sobre “Aspirações e Anseios os Agrários em todos os Campos de Actividade”
Apareceu um “dentista formado numa universidade desconhecida” que fez rir de verdade toda a assistência (era da parte de São Mamede).
Estava a ficar tarde para chegar a casa ainda de dia, a festa terminou com o Hino da Acção Católica Portuguesa, e todos tomaram o caminho de regresso às suas casas.
Coro falado composto especialmente para a Festa da Família Agrária Alqueidão e São Mamede – 10-05-1956 Locutor: Aqui tendes Senhor a vossa Família Agrária do Alqueidão e São Mamede, num espírito de união fraternal, a render-vos preito de humilde gratidão. Todos: Aqui estamos Senhor, nós, aqueles que revolvemos a dura terra para semear aquela semente que Vós fazeis germinar, desenvolver e dar fruto. Locutor: Vimos pedir e agradecer Todos: Precisamos Senhor da vossa benção e protecção, pois sem Vós, os nossos suores não se transformam no pão que cada dia há-de manter a vida que bondosamente nos destes. Locutor: Mostrastes até há pouco a Vossa Grandeza, até no castigo com que podeis fulminar-nos. Todos: Como sois grande ó Senhor Locutor: Queríamos hoje trazer com mais abundância os primeiros frutos, as permissias das nossas sementeiras até junto do Vosso altar, mas o tempo agreste que Vós permitistes, não deixou germinar as sementes, que mãos pecadoras lançaram à terra. Todos: Tende piedade de nós, ó Senhor, perdoai-nos as nossas ofensas, esquecei o dia terrível dos vossos justos castigos. Locutor: Já que na Vossa Providência Infinita nos tendes mandado este tempo agreste, deixai que digamos como o Salmista: Todos: Chuvas e geadas bendizei ao Senhor, frios e neves bendizei ao Senhor, ventos e tempestades bendizei ao Senhor Locutor: E agora Senhor, Todos: Apresentamos ao Vosso ministro, as nossas ofertas, que nos unirão neste Sacrifício a Vós, Vitima Adorável. Com estas ofertas queremos ficar verdadeiramente unidos a Vós, para podermos remediar a nossa fraqueza e pequenez no grande pedido que Vos vamos fazer. Enriquecidos agora com a Vossa Presença, permiti que vos façamos confiadamente o nosso pedido. Pedimos Senhor Omnipotente e Misericordioso que cumuleis com a abundância das Vossas graças as primicias que Vos dignastes nutrir com a chuva e com o tempo, e fazei com que os frutos da terra que é Vossa cheguem ao perfeito crescimento. Fazei Senhor com que o Vosso povo, por vezes tão ingrato pense em Vos agradecer os benefícios com que os cumulais. Tornando a terra produtiva saciai também aqueles que necessitam de bens terrenos, para que assim, os pobre e indigentes possam também entoar os Vossos louvores, ao Vosso poder e à Vossa Glória. Assim seja.