Por altura do Natal, e até ao dia de Reis, era costume antigo no Alqueidão a rapaziada mais nova ir cantar as Janeiras. Esta tradição passou de geração em geração, deste tempos imemoriais, sem interrupção, até entrar no rol das coisas esquecidas.
Antigamente, depois da ceia, os rapazes que tinham combinado ir cantar as Janeiras juntavam-se em diferentes grupos. Normalmente já sabiam a que portas iam fazê-lo porque já tinham feito a lista das casas em que tinha havido a matança do porco.
Em frente às habitações, dispunham-se em círculo e aproximando as cabeças começavam a cantoria.
JANEIRAS DO NATAL
Os versos tradicionais são:
Partiram as três Marias, Numa noite de luar, À cata do Deus Menino Sem no poderem achar Foram de rua em rua E de lugar em lugar; Foram dar com ele em Roma, Revestido num altar. Senhora que estais sentada Nesse tão belo assento, Venha nos dar as “Janeiras” Em honra do Nascimento. Senhora, que estais sentada Nesse assento de cortiça, Venha nos dar as “Janeiras” Que a gente quer ir p’rá missa.Aqui a cantoria era interrompida para receber as Janeiras se alguém lá de dentro se despachou a entregá-las ou para as pedirem no caso de ninguém ter dado sinais de vida.
As Janeiras podiam ser uma posta de lombo, ou qualquer outra carne do porco, um copo de vinho novo, ou tudo isto numa só vez.
Feita a entrega, seguia-se o agradecimento, para o que se juntavam de novo em circulo e cantavam:
Estas casas não são casas, Estas casas são casinhas; Tantos anos viva o dono Como ela tem de pedrinhas.Se, em resposta, lhes fizessem “ouvidos de mercador”, então os “janeireiros” começavam uma série de insistentes pedidos para provocar uma decisão favorável. Com a insistência o dono da casa acabava por aparecer e levava os cantores até à adega para molhar as gargantas e comer umas filhós, ou uma fritada de lombo.
O problema era quando não aparecia ninguém. Os “janeireiros” começavam a gracejar com a somitiquice do dono da casa, pedindo-lhe as unhas do porco. Perdidas as esperanças, abalavam e iam bater a outra porta, cantando os seguintes versos:
Estas casas não são casas, São feitas de papelão! Deus lhe dê um formigueiro Com qu’elas caiam no chão.JANEIRAS DO ANO BOM
Por altura do Ano Novo eram cantadas as seguintes quadras:
Bons Anos, Bons Anos Que Deus nos queira mandar, Para tornarmos a ver Outras festas de Natal! Senhora que tanto tarda, Que não vem abrir a porta! Ou o toucinho é gordo, Ou a faquinha não corta!Depois delas vinha a quadra de agradecimento ou de censura, conforme fosse o resultado final do pedido.
JANEIRAS DOS REIS
As “Janeiras” deste dia constavam de uma só quadra que era assim:
Partiram os três Reis Magos Da parte do Oriente; A estrela que os guiava Era Deus omnipotente.Como nas do Ano Bom, havia a seguir lugar para os versos de agradecimento ou para os de censura.
Acabada a volta seguia-se o banquete. Todos participam na confecção dele. O cozinheiro era aquele que tivesse mais jeito, segundo a opinião de todos.
Toda a gente ajudava. Uns a partirem carne, outros a racharem cavacas, outros acarretavam a água, outros arranjavam vinho e pão, outros atiçavam o lume sobre o qual haveriam de poisar o tacho de barro com o lombo que juntaram, partido em pequenos bocados, e um molho feito de gorduras várias com os devidos temperos: sal e pimenta, colorau e cominhos, louro, etc. A tudo isto se juntava um pouco de bom vinho, nos momentos finais da fritura.
Cozinhado que estava o pitéu, todos abancavam em volta do tacho da fritada e davam largas ao apetite e à alegria. O banquete, as anedotas e as conversas de namoros e das peripécias da vida militar acabam muito pela noite dentro.
ola, eu tambem tive a oportinidade de cantar as janeiras com rapazes do meu ano, por ex:
ou o chouriço està gordo, ou a faca noa quer curtar, faça-lhe furufufu, nas brdas do alguidar
Bons momentos esses anos
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Gosto de ver as fotos antigas …mas é possivel identificar quem aparece,não?
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Na foto acima, da esquerda para a direita temos um rapaz de Porto de Mós, a seguir está o Almanaque e a seguir o João Bispo, por ultimo outro rapaz de Porto de Mós, na eira da Ti Maria Coiceira.
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