Primeiros Anos da Republica

Foi a 8 de Dezembro de 1912, portanto, mais de dois anos depois da implantação do novo regime em Portugal, que se realizou a primeira manifestação da actividade da política republicana na sede da Freguesia de Alqueidão da Serra. A finalidade desta manifestação foi eleger os corpos dirigentes do Partido Republicano Português.

Para a classe dos efectivos foram nomeados Luís Gaspar da Silva Raposo, Joaquim da Costa Rei, João Carreira, Francisco Vieira Saragoça e Manuel Baptista.

Para suplentes ficaram Francisco Vieira Patrão, Domingos Pereira Brioso (mais conhecido por Santareno), Luís José Meireles e Manuel de Matos Barreiros.

As funções de regedor, neste ano, foram confiadas a João Vieira Padre Nosso como efectivo e a Francisco Vieira Patrão como suplente.

A tomada de posse foi no dia 1 de Janeiro de 1913. Luis Gaspar da Silva Raposo foi nomeado presidente da Comissão Paroquial Republicana. Foi a partir daqui que começaram as confusões e as escaramuças.

O Raposo odiava tudo o que dizia respeito à Igreja. Levou ao extremo a sua perseguição aos padres colocando uma bomba no parapeito da janela do quarto onde dormia o padre Júlio Pereira Rosa e o seu irmão Francisco.

A histórias que ouvimos contar aos nossos avós deixam perceber o medo e a insegurança em que viviam as pessoas do Alqueidão nesta época.

Estávamos em Maio de 1913. Era domingo e já passava das oito da noite.  Já tinha acabado a “Oração” e uma grande parte das pessoas já estavam em casa. Na taberna que ficava  à saída do adro do lado direito da Rua Padre Júlio Pereira Roque é que ficaram alguns homens que ainda resolviam casos pessoais, rematavam seu negócio ou combinavam troca de trabalho para o dia seguinte, enquanto iam bebendo o copito como era velho costume. E tudo corria bem e na melhor harmonia.

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De repente entrou Luís Gaspar da Silva Raposo que começou a repreender e a ameaçar com “porrada”, um dos elementos do grupo, devido ao facto de este ter deixado de o servir, trocando-o por Domingos Carvalho, que era, precisamente, o dono do estabelecimento.

Cresceu o tom ameaçador do Raposo e Domingos Carvalho garantiu-lhe que em sua casa nunca consentiria que ele tocasse no trabalhador em causa. O Raposo saiu porta fora direito a sua casa, que era a dois passos dali, onde foi buscar uma pistola e voltou à taberna onde todos ainda se encontravam. Entrou e deu três tiros à queima-roupa sobre Domingos Carvalho que foi atingido por uma das balas num cotovelo.

Criou-se um enorme alvoroço. Uns retiraram-se cautelosamente, outros socorreram o ferido e procuraram remediar a inesperada situação. Correram para Porto de Mós, mas o estado exigia maiores cuidados. Seguiram de comboio para Lisboa, e no Hospital de S. José foi-lhe diagnosticada uma fractura nos ossos do cotovelo.

Ao Raposo é que não aconteceu nada. Nem uma repreensão do Regedor, nem do Administrador do Concelho, nem nada. Isto apesar de Domingos Carvalho ser membro efectivo da Comissão Municipal Republicana do Concelho.

Às autoridades administrativas do Concelho, não consta que tenha dado qualquer explicação. Também ninguém lha pediu. Teve no entanto o cuidado de ir ao jornal “Povo de Porto de Mós” rectificar o que nele se tinha publicado a respeito do caso. Na versão que fez contou que Domingos Carvalho tentou agredi-lo e ele, para o amedrontar, disparou contra o balcão, e que foi na precipitação da fuga que Domingos Carvalho foi ferido pela bala!…

O criminoso era membro do Partido Republicano Português e Presidente da Comissão Paroquial Republicana. De mais importância que isso, era ele ser quem era, Luís Gaspar da Silva Raposo. Ninguém se atrevia a fazer-lhe nada.

Entretanto, a vítima, radiografado no Hospital de S. José, teve de sofrer a operação para lhe tirarem a bala e comporem a fractura resultante do tiro. Ficou na enfermaria de S. João Baptista do referido Hospital, durante algumas semanas.

Entretanto, a 22 de Maio deste ano de 1913, Luis Gaspar da Silva Raposo baptizou “civilmente” um filho, oferecendo aos amigos um grande jantar que terminou com vivas entusiásticos ao Partido Democrático, “à nossa querida República” e a Afonso Costa! A criança chamou-se Joaquim e foi a primeira nascida no Alqueidão, afectada de mongolismo.

Os habitantes do Alqueidão viviam em constante sobressalto. Corria ainda o ano de 1913 quando a filha de Domingos Carvalho encontrou uma bomba no palheiro quando foi dar de comer aos animais. No mesmo saco onde estava a bomba havia um papel que parecia ser um esquema de uma bomba, e uma carta com os dizeres “para dar cabo dos malandros dos republicanos”, além de outras palavras muito comprometedores para várias pessoas da terra.

Sobre este assunto, as pessoas honestas da terra formaram a opinião de que se tratava de criminosa aldrabice para excitar os ânimos dos Republicanos contra os Monárquicos. Toda a gente sabia que os Monárquicos locais não faziam mal a uma mosca.

Chamadas as autoridades, houve buscas na casa de Luís Gaspar da Silva Raposo, cuja esposa teve que prestar declarações. Além de Domingos Carvalho, foram ainda chamados a prestar declarações, o P.e Joaquim Vieira da Rosa, prior da Freguesia, o P.e António Vieira da Rosa, o presidente da Junta José Vieira da Rosa e sua mulher. Nada se apurou.

Luis Gaspar da Silva Raposo foi, em 22 de Março de 1919, nomeado presidente da Comissão Administrativa que substituiu a Junta de Freguesia de Alqueidão da Serra por força do Decreto 3738, e do Alvará do Governador Civil de Leiria datado de 19 de Março de 1919. Aproveitando as suas novas funções tomou posse de alguns terrenos particulares informando que seriam para a Junta, facto que nunca se verificou, e apoderou-se também dos prédios que pertenciam à Igreja que foram posteriormente vendidos em hasta pública.

Terminado o mandato da Comissão Administrativa em 19 de Julho de 1919, foi António Vieira da Rosa nomeado presidente da Junta de Freguesia.

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