A Ninita, nascida em aldeia sertaneja, tinha um porte de menina fina, distinta no porte, sedutora no sorriso, vanguardista na moda, que se comprazia em desafiar, com desusado primor.
Ao domingo, ela ia sempre à missa das sete, envergando um traje de requintado recorte, estilo Versage.
Antes da missa, num domingo, estava eu no altar, voltado para o povo, a rezar um Pai – Nosso por “avençados” defuntos.
Entretanto, a Ninita entra, senhoril, na igreja, com as galanteios da última moda: saia muito, muito travadinha e sapatos de tacão muito alto e muito fino, com um preguinho na extremidade, que legava buracos às tábuas da nave.
Qual peralvilho encalamistrado de missangas e lantejoulas, tresandando elegância, avançava ela, petulante, pelo corredor central, esmagando o soalho. A tantas, parou para fazer a genuflexão com a graciosidade usual.
Mas a saia não tinha folga suficiente e … catrapuz; com ruído estatelou-se no chão.
Eu, que estava tão somente atento na reza dos pai-nossos, distraí- me e soltei uma enorme risada que contagiou todos os devotos. Tive pena. Depois falei com ela e ambos rimos…rimos… E quando nos encontramos, rejuvenescem os risos.

14 de Maio de 2011
O facto deu pretexto para eu, rapaz novo, fazer umas palestras tontas sobre a moda, alardeando que a moda define a pessoa: os traços do seu rosto e os decalques do seu corpo; que a moda está ao serviço da pessoa para a libertar e autenticar e nunca para a amesquinhar e escravisar.
Alqueidão da Serra, 1964
De “As minhas memórias”
(Padre Américo Ferreira)