Genesis

Sátira da vida politica no concelho de Porto de Mós no princípio do século XX. Artigo  publicado em 1905 no jornal “O Portomozense”.

Genesis

  1. No princípio criou Deus o Céu e a Terra.
  2. A Terra porém era vã e vasia: e as trevas cobriam a face do abysmo: e o espirito de Deus era levado sobre as águas.
  3. E Deus disse: Faça-se o Confraria. E foi feito o Confraria.
  4. E Deus viu que o Confraria era bom. E como já tinha as trevas chamou ao Confraria Dia porque até rimava, e às trevas Claudio Motta. E unindo-os pelo cordão umbilical da tarde e da manhã, fez o primeiro dia.
  5. Disse também Deus: Faça-se o firmamento. E poz lá o Carocho a servir de ursa menor e o Joãozinho em pelota arremedar de Venus. E assim se fez.
  6. Chamou ao firmamento cópa de penante esburacado e da tarde e da manhã se fez o segundo dia.
  7. Disse também Deus: Os carochos que estão debaixo do Céu ajuntem-se no mesmo logar e o elemento árido apareça.
  8. E assim se criou o partido regenerador em Porto de Mós, e apareceu o Synagoga.
  9. E chamou Deu ao elemento árido Synagoga e ao aggregado de regeneradores Escuridão, por ser da côr do Carocho. E viu Deus que isto era bom.
  10. Disse também Deus: Produza a terra herva verde que faça semente e produza árvores fructiferas, que dêem fructo, segundo o seu género, cuja semente esteja n’elas mesmas sobre a terra. E assim se fez.
  11. E produziu a terra muita fava para os regeneradores la irem, segundo o seu género, e árvores que dava peras para elles comerem duras. E assim se fez.
  12. E da tarde e da manhã fez o terceiro dia.
  13. Disse também Deus: Façam-se uns luzeiros no firmamento do céu, que dividam o dia da noite, e sirvam de signaes para mostrar os tempos, os dias e os anos.
  14. Para que luzam no firmamento do céu e allumiem a terra. E assim fez.
  15. Fez Deus dois grandes luzeiros, um maior que presidisse à asneira, outro mais pequeno que presidisse aos asnos e criou também uns bazarucos ou patacos macanjos.
  16. E ao luzeiro que presidisse à asneira chamou Zé Calino e ao que presidisse aos asnos Ximenes. E como criara os bazarucos deu-lhes o nome de Lombrigas.
  17. E pôl-os em Porto de Mós a servir de espantalhos.
  18. E viu Deus que isto era bom, e da manhã e da tarde fez o quarto dia.
  19. Disse também Deus: Produza a terra animaes d’alma vivente e aves que vôem debaixo do firmamento.
  20. E criou o Gato Bravo e a coruja manicáca e deus-lhes os progressistas como carapaus e o azeite das lampadas dos ermitérios.
  21. E Elle os abençoou dizendo: Crescei e multiplicae-vos e enchei as areias do deserto e a varriginha de comilancia
  22. E elles a comer progressistas e a beber azeite soffreram fome canina. E da tarde e da manhã se fez o dia quinto.
  23. Disse também Deus: Produza a terra animaes selvagens, bestas de carroça, repteis, serpentes, carochas, segundo a sua espécie. E assim se fez.
  24. E criou Deus toda essa cambada e chamou-lhe tropa-fandanga. E poz-lhe à frente o Zé Calino como capaz. E viu Deus que isso era bom.
  25. E juntou-o à burra de Ballaâo e disse-lhe. Crescei e multiplicai-vos a encher a terra, a dominar os peixes e as aves. E assim se fez.
  26. E viu Deus que todas estas coisas que tinha feito eram muito boas, e da tarde e da manhã fez o dia sexto.
  27. Depois escarrou, assoou-se e chamou São Pedro para nunca abrir as portas do céu ao que creára, e da manhã e da tarde fez a soneca do sétimo dia.
do Jornal “O Portomosense” 1905
Esta entrada foi publicada em Museu. ligação permanente.

Obrigado pela visita. Volte sempre!

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s