A 1 de Dezembro comemora-se o dia da Restauração da Independência de Portugal do domínio Filipino. Na manhã de 1 de Dezembro de 1640, um grupo de conspiradores invadiram o Palácio Real, mataram o representante da Espanha em Lisboa, Miguel de Vasconcelos e aclamaram D. João, duque de Bragança, como rei de Portugal. Foi o fim de um período de grande descontentamento por parte da população portuguesa, que já não suportava a União Ibérica que existia entre Portugal e Espanha, e que originou problemas com sobrecarga de impostos e envolvimento de Portugal nos conflitos de Espanha.
300 anos depois…
No dia 1 de Dezembro de 1940 este acontecimento ficou assinalado no Alqueidão da Serra com inauguração do Cruzeiro da Independência.
Este monumento lembra-nos dois momentos importantes da história de Portugal:
- A formação do Reino de Portugal em 1140, quando D. Afonso Henriques se afirmou como rei de Portugal com o apoio dos nobres portugueses, sendo depois reconhecido como rei soberano com o Tratado de Zamora em 1143.
- A restauração da Independência em 1640.
Ata de inauguração do Cruzeiro da Independência
“No ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil novecentos e quarenta, no primeiro dia do mês de Dezembro, veio ao local onde agora fica o chamado Cruzeiro da Independência, grande multidão de povo, vindo dos diversos lugares da Freguesia com o fim de assistir à bênção e inauguração do Cruzeiro – pôde ele ser construído com o produto duma subscrição aberta entre os habitantes do Alqueidão e Carreirancha, que para se associarem às comemorações dos centenários VIII da Fundação e III da Restauração de Portugal, quiseram mandar erguer este padrão.
Todo ele de pedra de cantaria, consta de dois degraus formando quadrado, do meio dos quais se levanta um pedestal sobre o qual se levanta uma coluna redonda encimada por uma pedra lavrada, formando quatro faces, numa das quais se desenha o escudo da bandeira portuguesa, noutra, a esfera armilar e nas outras duas uma espada e cruz cruzadas. Por sobre esta assenta outra pedra circular em forma de coroa e é desta que sai uma cruz latina com que termina todo o monumento.
Mede este seis metros em toda a sua altura e no pedestal está gravada esta inscrição:
VIII Centenário da Independência
III da Restauração de Portugal
1940
Foi empreitado, incluindo o seu assentamento, por 1.380 escudos.
Às nove horas e meia desse dia, o pároco celebrou a missa paroquial que foi cantada, subindo ao púlpito na altura própria para fazer a homilia. Enalteceu as glórias cristãs de Portugal, a fé dos seus paroquianos, lançando a maldição sobre os que, no presente ou no futuro, venham a negar a fé e a fazer irreverências a este Cruzeiro. Terminada a missa, organizou-se um cortejo em que tomaram parte os organismos da Acção Católica, Juventude Católica, masculina e feminina, Liga dos Homens da Acção Católica, Cruzada Eucarística, crianças das escolas do Alqueidão, dos Bouceiros e dos Casais com seus professores, trazendo cada qual seu distintivo e estandarte, e muito povo. No local, procedeu o pároco à bênção do Cruzeiro acrescentando algumas palavras ditadas pelo seu espírito patriótico. Foram recitadas poesias por diversas crianças e outras pessoas, houve um pequeno coro falado em que tomou parte muita gente, tendo pronunciado discursos, Fernando António Pereira, professor primário oficial do Alqueidão e António Luiz Fernandes também professor primário em Leiria.
O bom acolhimento que esta festa havia de ter, manifestou-se logo na generalidade das ofertas para a despesa a fazer com este monumento, e por isso o entusiasmo foi grande neste dia de verdadeira festa patriótica em que estrugiram os vivas e aplausos. Deixemos esta acta que vai ser arquivada, como testemunho e exemplo para os vindouros, da nossa fé religiosa e patriótica, formulando o voto de que no ano cinquentenário desta celebração, o então pároco desta freguesia promova, em dia e mês que parecer mais conveniente, a celebração duma missa cantada pelas almas daqueles que hoje tomaram parte nesta festividade e se empenharam por ela, para que, ao relembrar esta data, ao sufrágio se junte o estímulo da devoção e patriotismo que devem atear-se na alma dos portugueses. Com fé de que os presentes que Deus deixar chegar a esse dia empenhem a sua palavra. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Alqueidão da Serra, Junto do Cruzeiro da Independência ao primeiro dia de Dezembro de 1940. E eu Henriques Antunes Fernandes, pároco desta freguesia a subscrevo”.
Este documento teve uma influência tão grande na vida e toponímia do Alqueidão que, daí por diante, falar no Cruzeiro era, e continua a ser exatamente a mesma coisa que referir-se a este. Ele é o Cruzeiro por excelência.

O cruzeiro ficou muito bonito com a iluminação.
Interessante foi o discurso do padre no dia da inauguração deste monumento, ao ameaçar do alto do púlpito, quem tivesse a ousadia de o vandalizar.
Foi pena que o cruzeiro da Senhora da Tojeirinha também não tivesse sido protegido com esses augúrios, tendo em conta que há 2 anos foi destruído por gente nefasta.
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