Pertencia a uma família de peixeiras. A sua mãe Ana vinha vender peixe para o Alqueidão com duas filhas ainda pequenas.
Conheciam toda a gente, sabiam sempre tudo o que se passava. Vinham de manhã, na camioneta e passavam o dia no Alqueidão. Vendiam o peixe de porta em porta, andavam com as canastras à cabeça, o que fazia com que ficassem todas molhadas com a água que ia pingando das canastras.
Almoçavam em casa de quem lhe oferecesse o almoço. Muitas vezes trocavam o peixe por batatas, ou outros produtos que as pessoas cultivavam.
Passaram os anos e a mãe Ana, deixou de vir. Mas as filhas Deolinda e a irmã continuaram a vir ao Alqueidão vender o peixe. Algum tempo depois a irmã passou a vender o peixe em Porto de Mós e a Deolinda passou a vir sozinha.
Durante muitos anos, 2 vezes por semana, a Deolinda trazia-nos peixe fresco. Chegava cedo, vinha na camioneta da Rodoviária, e depois corria o Alqueidão inteiro a pé, com a canastra à cabeça para vender o peixe. No fim voltava para a Nazaré na Rodoviária.
Para o almoço trazia um bocadinho de pão no bolso do avental. Quando chegava a hora de almoçar fazia uma fogueira, assava um peixinho e comia com o pão. Muitas vezes as pessoas ofereciam-lhe um prato de sopa.
Tinha um bom coração, toda a gente gostava dela. Quando percebia que alguém tinha uma vida difícil, ou estava doente, ela dava-lhe o peixe. Quando as pessoas passavam por ela, no caminho do trabalho e não levavam dinheiro, ela deixava levar o peixe na mesma e dizia: não faz mal, pagas depois!
Por vezes, quando ela passava, as pessoas não estavam em casa, mas naquela altura toda a gente deixava as portas destrancadas, e ela já sabia de que peixe as pessoas gostavam, abria a porta e deixava lá ficar o peixe para o almoço.
Vinha sempre, quer estivesse chuva e frio, ou em dias de muito calor a peixeira vinha cá sempre, e percorria a aldeia toda com a canastra à cabeça.
Depois, mais tarde, arranjou um carro de mão onde colocava o peixe para vender, e também as coisas que as pessoas lhe davam (batatas, alfaces, tomates, cebolas, etc.).

Deolinda Peixeira
E quando a idade já não lhe permitia andar tanto a pé, ficava no muro do adro e esperava que as pessoas lá passassem.
Até que ficou doente. Mas ainda assim veio durante algum tempo com a sobrinha que tinha um carro frigorífico.
Não podendo mais vir por força da idade, ficou em casa no Sitio da Nazaré.