Alfredo de Matos deixou escrito como decorreram as suas investigações no que diz respeito à desaparecida Capela de Santa Catarina.
Disse ele:
“O testemunho mais antigo a respeito da capela de S.ta Catarina, de que tenho conhecimento, acha-se em “O Couseiro”. O que é pena é ser tão pouco quilo que ele diz sobre o assunto, que bem pode comparar-se a quase nada. Senão, leia-se o que vem nos finais do capítulo 139, dedicado à freguesia do Alqueidão, que é o seguinte:
Há nestra freguesia huma Ermida da invocação de Sancta Catharina, junto do Lugar da Mata Longa, feita para administração dos sacramentos, a cuja fabrica são obrigados os fregueses.
Já existiria quando o Alqueidão foi promovido a Freguesia, caso que se deu em 1615, com pequena diferença para mais ou para menos, se diferença existiu?
Parece que não, se atendermos ao completo silêncio do livro, em tal ponto. Com efeito, vai ele referindo as capelas do Reguengo e, depois se ocupa especialmente da de Nossa Senhora do Fetal, da de S. Mamede e da de S.ta Iria, cita a de Alcanede, que em sua primeira construção teve S.to Hilário como orago e, na segunda, S. Mateus. Logo a seguir afirma:
Havia mais a Ermida de Sam Joze do Alqueidão da Serra, que ao depois foi eregida em Confraria, como em seo titolo se dirá.
Mas voltemos à primeira sitação:
Há nestra freguesia huma Ermida da invocação de Sancta Catharina(…)
Posto o quase dispensável esclarecimento de que a palavra “freguesia” ou foi escrita por lapso ou reproduzida, por erro de cópia, em vez de “freguesia”, como o próprio contexto exige, prossegue a lista das capelas e vem no eito, a das Torrinhas ou Piqueiral e a do lugar do Vale Magro. Mais nenhuma. Quer isto dizer que a capela de Santa Catarina, ainda não estava construída, na data em que o Alqueidão passou a freguesia. Se ela existisse, com que razão era omissa no livro quando este ainda fazia menção da que, ao diante, foi matriz da nova freguesia, desmembrada do Reguengo?
Estamos, portanto, a lidar com uma construção posterior a 1615, sem coisa que dúvida faça. Quanto ao ano exacto da sua construção, não dispomos de ajuda que leve a indício de caminho para o acharmos, nem sequer de maneira aproximada. De resto, a bem dizer, quase tudo é incertezas no que toca a este desaparecido templo. Tudo ignoramos das suas medidas, da orientação, quantos e quais eram os seus altares, que imagens possuía, se tinha campanário e garrida anunciadora das práticas religiosas. Nem, propriamente, sabemos da sua exacta localização.
Das inculcas, por mim lançadas, para averiguar em que sítio a implantaram, pouco resultou. Para meus pais, e para muita gente mais idosa (Hermano Santana e Manuel Santana), a capela foi construída em terrenos situados ao poente da Lagoa. Para o dizerem, os primeiros fundavam-se no facto de ainda terem visto de pé restos duma parede, rebocada e caiada, na qual tinha sido feita uma reentrância. Esta, que era de reduzido fundo e pouca altura, assentava numa pequena laje, de rebordo levemente fora do prumo da empena. Por ter sido aberta, muito chegada ao canto da parede e devido ao seu feitio, imitado a algumas, vista nalguns templos, em que o sacristão colocava as galhetas, antes da reforma litúrgica em vigor desde há anos, originou a conclusão já dita, quanto ao posicionamento da ermida, visto que, ao lado, (no centro, portanto) ficaria o altar.
Com ela me conformei, à falta de melhor e por não topar em meio de a contraditar. Em 1971, ( O terreno, em 1971, pertencia a Tiago Vieira Gomes) à cata de esclarecimentos para certas miudezas que implicavam com o sítio, uma dúvida surgiu, inesperadamente, à qual sou devedor de atenções. Quis o acaso que, deslocando-me à Lagoa, como se diz simplificadamente, orientado por João da Silva Marto foi ele quer me deu conta da velha tradição que afirma a existência de um cemitério antigo, a nascente da lagoa, em terrenos que foram de Joaquim Sapateiro e que, hoje pertencem a várias pessoas, entre as quais se registam herdeiros de Francisco Carvalho e de José Vieira da Rosa, também conhecido por José Lato. Em tempos que lá vão, encontraram aí muitos ossos humanos.”
Para muita gente mais idosa, a capela foi construída em terrenos situados ao poente da Lagoa. Diziam isto porque se lembravam de ainda terem visto de pé restos duma parede, rebocada e caiada, na qual tinha sido feita uma reentrância.
O pároco Sebastão Vaz, dá-nos conta do estado em que ficou a Capela, por consequência do terremoto de 1755. Escrevendo nos começos de 1756, o seguinte:
“Naõ se aRuinou caza alguma nesta minha freguezia, Nem sei que ficaçem em prigo algum. Nem ha mais edefiçios que esta Igreja desta Freguezia, e huma ermida de Santa Catherina, que algum damno teve; mas foi quazi nada so se abriram mais algumas Rachas que tinha nas paredes, que ja mandei Reteficar.”
Como se vê não era famosa a conservação da estrutura da capela.
A outra coisa que se sabe é o motivo por que a construiram, “feita para administração dos sacramentos” a um ramo da Freguesia.
A única lembrança material deste templo, é a imagem de S.ta Catarina, padroeira da Capela que, por desaparecimento do edifício ficou na igreja paroquial, e foi posteriormente transferida para a Capela de Nossa Senhora da Tojeirinha.
Reza a tradição oral que a capela de Santa Catarina foi destruída aquando das Invasões Francesas, por um destacamento militar que ocupou o Alqueidão durante alguns meses.