A fonte antiga era uma espécie de tanque, todo metido no chão, formado por quatro grandes lajes inteiriças, com cerca de 1,70 de altura e 1,50 de largo, e o fundo, igualmente de pedra.
Na parte superior este reservatório tinha uma cúpula de quatro faces inclinadas, feitas de tijolo, rebocado e caiado. No bico das quatro faces, assentava um pequeno e florão de cantaria.
A cúpula era fechada por todos os lados excepto o que ficou virado a Poente. Este ficou aberto na sua quase totalidade. Nesta ampla e alta abertura é que as pessoas mergulhavam cântaros e outras bilhas para as encherem com a água que jorrava para este reservatório pela bica de pedra.
Esta fonte foi feita de acordo com as instruções do Padre Afonso, para substituir a fonte antiga que ficava no Caminho do Ribeiro (caminho que passa frente ao actual edifício dos lavadouros, junto às terras dos herdeiros de Francisco Gabriel).
As grandes obras de beneficiação da Fonte datam de 1919. A prova está gravada na pedra que ainda hoje se encontra no jardim junto à fonte, e que, na fonte antiga, estava colocada por cima da pia onde os animais iam beber:
(1919 – MANDADO CONSTRUIR EM BENEFICIO DOS HABITANTES D’ESTA FREGUESIA Á MEMORIA DE D. ELISMINA DE JESUS PATRICIO DA SILVA GARCIA, NASCIDA N’ESTA POVOAÇÃO DO ALQUEIDÃO DA SERRA EM 23 DE ABRIL DE 1829 E DE SUA FILHA D. ADELAIDE SOPHIA GARCIA ALVES)
Trata-se da obra de abertura e lajeamento de dois grandes tanques a que deram o nome de poços, destinados à lavagem de roupas e da construção duma cobertura, para proteger as lavadeiras, do sol ou das chuvas.
Os tanques, em forma de quadrado, tinham a cercá-los na parte superior, os batedoiros, convenientemente inclinados e que ficavam a uma boa altura para a utilizadora poder mergulhar na água a peça de roupa para a lavagem.
A água procedia das bicas, passava pela Fonte que a transmitia aos tanques propriamente ditos situados entre a Fonte e os ditos “poços”, dos quais corria para seu último destino.
A cobertura era um amplo telheiro, com grande pé direito, seguramente emadeirado, para sustentar a telha de “marselha” que lhe aplicaram, num tempo em que, vulgarmente, se usava no Alqueidão a telha de canudo,(moirisca).
Tudo isto ficava no lado Poente do complexo da Fonte, à beira da estrada e media para além de uma dezena de metros. Entre os dois tanques ou “poços” corria um passadiço que dava acesso à estrada e passagem aos que, desta, pretendessem escolher lugar no lavadoiro, ir aos tanques, às bicas da fonte ou ao reservatório de “A Fonte”.
Este tão valioso melhoramento deve-se a Carlos Garcia Alves e a Alfredo Garcia Alves donos da importante firma industrial Alfredo Alves & Companhia. A estes nomes prestigiosos no mundo complexo da indústria, há que associar o nome do Fiscal Costa (Lourenço da Costa).
Foi ele quem convenceu os citados beneméritos, seus primos direitos, a favorecerem uma terra que só conheciam de nome, e com a qual a única relação que tinham era o velho laço familiar de sua avó ter nascido nela.
D. Felismina de Jesus Patrício da Silva Garcia nascida a 23 de Abril de 1829, foi baptizada em 30 do mesmo mês e ano, cerimónia em que participaram, como padrinhos, José Francisco Sarrano e Francisca Gomes, ambos da parte da Barreira que pertencia a S. João.
Seus pais chamaram-se Patrício da Silva e Francisca Inácia. Seus avós paternos Matias António e Maria da Silva. Ele era da Calçada, freguesia de S. João, e ela da freguesia de S. José do Alqueidão. Os avós maternos chamaram-se José Correia e Josefa Inácia, ambos da freguesia de S. José do Alqueidão.
D. Adelaide Sophia Garcia Alves, filha de D. Felismina, era mãe dos generosos beneméritos do Alqueidão, Carlos Garcia Alves e a Alfredo Garcia Alves.
As obras principiaram na primeira quinzena de Setembro de 1919, e ficaram prontas a 3 de Novembro, incluindo os trabalhos de beneficiação que o excedente da verba deu para se fazerem no bebedouro do gado.
Prestaram-lhes toda a assistência e orientação, o pároco da Freguesia e António Amado, este por via das suas ligações com a distinta família ofertante.
A população, querendo manifestar o seu júbilo, fotografou a obra, e enviou o retrato àqueles que tinham despendido os meios que a tornaram possível e prestável.
Quando, em 1941, o devastador ciclone assolou o País e, por toda a parte, fez larga sementeira de incalculáveis prejuízos, o Alqueidão sofreu a sua quota-parte. Um dos males, que espalhou foi deitar abaixo a cobertura do velho telheiro da Fonte.
Nesta altura Lourenço da Costa põe-se em campo outra vez, resolutamente. Outra vez seus primos puxam os cordões à bolsa, e suportaram todas as despesas de restauração.
Pena foi que o vergonhoso atrevimento de alguém com responsabilidades de nível oficial na Freguesia tivesse magoado gravemente o insubstituível angariador destes fundos, pretendendo sobrepor-se-lhe na administração do dinheiro. Foi pena e prejuízo, porque a Câmara de Porto de Mós, até esta data nunca tinha disponibilizado qualquer verba para que a população tivesse fácil acesso à água de que necessitava.
Passou o tempo, e por várias razões, houve que fazer novos lavadoiros, fora do telheiro, mas dentro da zona da fonte. A água vinha da Fonte para os lavadoiros.
Todo este conjunto arquitectónico foi destruído por uma terraplanagem feita sem o mínimo respeito pela preservação do património desta freguesia. No seu lugar ficou um pequeno fontanário.
Apesar das tentativas feitas para aumentar o caudal da água, nunca os resultados efectivos foram de tal ordem que as bicas da fonte corressem de modo satisfatório.
A péguia (nascente da fonte) baixou, e a isto veio juntar-se o normal crescimento da população, a prática mais regular de certos hábitos higiénicos, nalgumas casas, e o desenvolvimento da criação de gados.
A estes factores veio ainda juntar-se um longo período em que se acentuou a irregular queda das chuvas, tornando impossível o arrebentar das nascentes e a renovação das reservas das cisternas.
Tempo houve em que as bicas nem sequer pingavam. O que valeu nesta insustentável situação foram os poços da Várzea, apesar de, também neles, ter tido graves reflexos quanto à renovação de suas péguias (nascentes).
A este estado de coisas assistiram impassíveis as autoridades concelhias. Não foi por falta de conhecimento da tormentosa vida que levavam os habitantes da freguesia, tão densamente povoada. Durante anos a fio, os jornais de Leiria, especialmente “O Mensageiro”, chamaram a atenção de quem de direito para esta desgraça colectiva, cuja gravidade crescia a olhos vistos, de dia para dia.
Em“O Mensageiro”de 10 de Junho de 1950 podia ler-se:
”Em 1947, o Revº Pároco da Freguesia e Vigário da Vara, Rev.º Henrique Antunes Fernandes, na esteira do seu antecessor (referência clara e evidente, ao P.e Afonso) mandou proceder a um estudo dos trabalhos necessários à fonte. O projecto desses trabalhos, elaborado pelo Agente Técnico de Engenharia, Armando L. A. Manso, deu entrada na Repartição de Urbanização de Leiria e, aprovado, beneficiou da dotação do Estado Novo pelo Orçamento de 1948/49. Nas despesas, orçamentadas em cento e cincoenta e um contos, comparticipava o Estado com 75% ou sejam 113.250 escudos; e a Câmara de Porto de Mós entraria com 37.250$00. Era chegada a altura de a única fonte pública beneficiar dos favores oficiais. Assim teria sucedido se a Câmara de Porto de Mós não oficiasse à Repartição de Urbanização a cancelar o andamento do projecto. Perdeu-se a verba oficial e a populosa freguesia do Alqueidão ficou sem melhoramentos que todas as circunstâncias impõem.”
Pouco depois deste facto ocorreu a transferência do Rev.º Henrique Fernandes, e, o que se verificou foi o agravamento da situação.
Durou este estado do coisas até 1953. Em Julho de 1953 é que a Câmara Municipal se despachou a abrir caminho a outra fase da solução da angustiosa crise de falta de água.
A solução adoptada foi a abertura dum poço. Decidiram implantá-lo no local onde funcionavam os tanques, isto é, no espaço compreendido entre o patim da Fonte e o telheiro da lavagem da roupa.
Em 9 de Julho, já havia trabalhos feitos. A uma fundura, relativamente pequena, apareceu água. E a continuação do rebaixamento do nível, em que isto se verificou, veio dar provas do crescimento das potencialidades da péguia. Feitas as contas, apurou-se que o caudal era de vinte litros por minuto, ou seja, de mil e duzentos litros por hora.
Pronto quanto à mão de obra de pedreiro, o poço ficou a servir o povo em condições muito precárias. Apesar disso, em “circular”, sem data, assinada pelo pároco, comunicava-se “aos ausentes e amigos do Alqueidão da Serra”, que a Junta de Freguesia, a União Nacional e o Povo, resolveram fazer uma demonstração de agradecimento ao Presidente da Câmara. O Agradecimento era pela abertura do poço e, por outro melhoramento em curso:
”O ramal que liga a sede da Freguesia aos Casais dos Vales, Vales e Covão de Oles: foi encascalhada pelo povo e vai ser ensaibrada e cilindrada pela Câmara.”
A data escolhida foi 5 de Outubro de 1953, segunda-feira da festa de S. Sebastião. Nesta mesma semana foi aplicada no poço da fonte uma bomba potente para tirar a água suficiente ao consumo público.
Abastecimento domiciliar
As dificuldades em relação ao abastecimento de água, cresciam a olhos vistos de ano para ano. Ele era porque a péguia, devido a uma insuficiente exploração, ficou muito débil, ele era porque uma parte do caudal se extraviava por causa de uma deficiente condução até ao reservatório, ele era ainda, porque a “bomba potente”, devido ao desgaste proveniente de muitos meses de trabalho, começou a avariar repetidamente, ficando longos períodos à espera da reparação. Isto para não falar do aumento do consumo devido ao crescimento da população e ao surgir de novos hábitos higiénicos, criados pela evolução do progresso.
Foi em Setembro de 1968 que se começou a vislumbrar a solução deste problema. Nesta altura foi nemeado o Dr. Joaquim da Silva Pinto para o cargo de Subsecretário de Estado das Obras Públicas, que desempenhou desde o referido mês e ano até Janeiro de 1970.
Votando especial carinho ao distrito de Leiria, em razão de motivos de natureza política, o Alqueidão estava, naturalmente, na sua linha de pensar e de agir, devido ao enquadramento administrativo. Além disso, o Dr. Silva Pinto, por laços de matrimónio, criou um especial carinho pelo Alqueidão. Nasceu daí, a razão do seu interesse pela terra e pela gente.
Logo depois de a Junta Sanitária de Águas dizer que o projecto feito gozava das condições para “merecer aprovação”, o Dr. Silva Pinto imediatamente o impulsiona com a decisão que lhe competia. Foi isto no dia 31 de Outubro de 1968, data em que proferiu o competente despacho de aprovação.
A 28 de Novembro de 1969, foi resolvido proceder à limpeza do poço da Fonte e a trabalhos impostos pelas circunstâncias que se deparassem. O estado de entupimento em que o acharam explica a falta de água que se ia atribuindo ao afalcoamento da péguia.
No 26 de Dezembro de 1969 foram pedidos informes relativos a esta operação. De um relatório sobre os trabalhos desta captação de águas, consta que houve aprofundamento e revestimento do poço, além da execução de dois furos horizontais, um aos 6,15 m de profundidade e outro a 19,5 m.
O primeiro alcança a extensão de 50 m e o segundo atinge a de 100 m, com o diâmetro de um metro. Este foi precedido de um troço de mina com 3,5 m de comprimento, o qual ficou revestido nas paredes laterais e tecto com placas de betão de 0,15 m de espessura.
O poço existente era de 12 m e o seu grau de entulhamento atingia a cota entre os 11 e os 12 m. Levado à fundura de 20 m, foi totalmente revestido com anéis de betão, com 2,5 m de diâmetro interior, cuja espessura media 0,25 m.
No fundo deste poço, foi aberto um sub-poço, cavado até à profundidade de 2 m e betumado.
Os números respeitantes ao caudal do poço dizem que “nos últimos 8 dias, o poço fornece 61 m3/24 horas, contribuindo o furo dos 6,15 m com 17,500 m3/24 horas e o outro com 33,500 m3/24 horas.”
Os técnicos admitiam que o rendimento total pudesse cair para 50 m3, ou, até ao nível dos 40 m3, conforme as estiagens mas, por falta de elementos, não podiam determinar níveis com segurança e rigor.
Entretanto, o Subsecretário de Estado das Obras Públicas acompanha o desenrolar das operações e, num documento respeitante à obra, sob a rubrica “urgente”, escreveu:
“Solicite-se ao Ex.mo Governador Civil de Leiria que acompanhe o processo junto da Câmara Municipal com vista à rápida resolução do assunto. Peço para ser informado sobre a evolução do caso, até 31 de Janeiro de 1970.”
O despacho é de 26 de Dezembro de 1969.
Nos começos de 1971 aparece a publicação do concurso. Ela vem no “Boletim de Informações”, de 19 de Janeiro. Candidata-se à execução dos trabalhos a firma António Emílio Gomes e Filhos, sedeada no Reguengo do Fetal, mas a praça é anulada por a proposta exceder em valor a base de licitação, a qual era de 1.277.770$00.
A 16 de Março, abre nova praça. Desta vez a base de licitação passou a 1.473.424$00. Concorre a mesma empresa e, mantendo a proposta inicial, ficou em condições de lhe vir a ser adjudicada a empreitada. Os Serviços de Urbanização de Leiria assim o entenderam e reconheceram, a 25 de Março de 1971, pelo que a Câmara Municipal de Porto de Mós ordena que o seu Notário privativo faça a respectiva escritura em 31 de Maio. A partir aí os trabalhos podem ter início.
Em 28 de Junho de 1971, numerosas pessoas, com o apoio da Junta de Freguesia, organizam um abaixo-assinado, a pedir que seja alargado o âmbito da cobertura da rede de distribuição domiciliar, a pontos que não eram considerados no plano inicial.
Pedido que, por si mesmo se justificava, foi aceite pela Câmara que, em 24 de Junho do mesmo ano, o levou ao conhecimento e consideração de quem de direito, dizendo tratar-se dos interesses de:
Fundo do Lugar – 4 habitantes, duas indústrias, numa extensão de 170 metros.
Rua da Chã – 5 habitantes, uma indústria, campo de Futebol, extensão de 160 metros.
Rua de José Lisboa – 13 habitantes, extensão de 170 metros.
Rua da Carreirinha – 11 habitantes, extensão de 140 metros.
Rua da Tojeira – 10 habitantes, extensão de 260 metros.
Rua da Escola – 8 habitantes, Escola e Cantina, extensão de 150 metros.
Pelingrim – 4 habitantes, extensão de 95 metros.
O pedido abrangia Gafarias, Rua da Cova e Rua da Lagoa de Santa Catarina, locais de que a Municipalidade não faz menção.
Este concurso, diz respeito à abertura de valas para colocação da tubagem ou condutas de água, material cujo fornecimento pertenceu à firma Cimianto, de Lisboa.
Começa neste momento, o que implica em assuntos de movimentação da água, desde a nascente, que se situa em zona muito baixa, para o depósito, onde adquire ponto que lhe dê para chegar a toda a rede de distribuição.
A Câmara declarou aberto o concurso. O “Boletim de Informações”, de 20 de Julho de 1972 deu-lhe a publicidade específica do seu estatuto de publicação. No “Diário do Governo”, de 28 de Setembro imediato, 3ª Série, saiu o edital que marcava o início do prazo da contagem do tempo para a entrega das propostas de fornecimento e montagem electromecânica, necessária ao abastecimento de água ao Alqueidão.
O mesmo “Boletim”, de 30 de Agosto, declarava aberta a segunda praça visto a primeira ter sido anulada. E, no seu número de 10 de Outubro, anunciava terem concorrido quatro casas fornecedoras de material e serviços da especialidade. A preferência coube à proposta da Hidrel – Técnica de Hidráulica e Electricidade, Lda., que se candidatou a tudo pela importância líquida de 272.270$00. Foi a ela que a Câmara de Porto de Mós adjudicou a obra, segundo vem no “Boletim de Informações”, de 30 de Janeiro de 1973.
Os trabalhos tiveram início em Julho de 1973. Finalmente, a 24 de Setembro de 1973, foi a desinfecção dos canos, operação que permitiu o emprego da água das torneiras domésticas, sem receio de consequências, nem escrúpulos de higiene.
Mas ainda não foi desta vez que ficou resolvido o preocupante problema da água.
A água da Fonte tornou-se insuficiente para abastecer a população. A Câmara de Porto de Mós instalou depósitos de água nos pontos mais altos, mas ainda assim era frequente a falta de água durante o verão.
Em 2013 à água chegou ao Covão de Oles, A cerimónia de Inauguração do Abastecimento de água ao Covão de Oles, ocorreu no dia 14 de Setembro de 2013, pelas 18h30, no Largo de N.ª Sr.ª do Rosário, no Covão de Oles.
O presidente da Câmara de Porto de Mós, João Salgueiro, garantiu nesta altura que, com o reforço do abastecimento ao Alqueidão, a população nunca mais ia ter de passar grandes períodos de tempo sem água, como acontecia habitualmente durante o verão.
A água do Fontanário que ficou a marcar o local que durante tantos anos abasteceu população do Alqueidão, ficou imprópria para consumo, porque não passa pelos depósitos e não é tratada, servindo apenas para regar.
Com o passar do tempo a Fonte ficou com um aspecto degradado que em nada dignificava um local que outrora teve um papel de importância fundamental na vida da comunidade.
Em 2017, a Junta de Freguesia, liderada por Filipe Batista, requalificou o espaço, dando-lhe uma nova vida, relembrando o que era a Fonte noutros tempos, e embelezando a entrada do Alqueidão para quem vem da sede do Concelho.
Estes dados históricos são muito enriquecedores, com eles conhecermos melhor as mudanças evolutivas ao longo dos tempos.
Muitos parabéns.
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