O Alqueidão nasceu num sítio pedregoso, carateristicamente sequeiro, e o facto é que a água tão necessária à vida do homem, não aparecia na natureza que nos rodeia.
Os romanos que habitaram esta região, e que se dedicaram à exploração do ferro na zona dos Vieiros, foram os primeiros a procurar a água tão necessária para o seu uso pessoal e industrial, e encontraram-na em abundância num local que todos conhecemos pelo nome de “Lagar”.
Esta é a mais velha captação particular de águas subterrâneas de quantas se conhecem nesta Freguesia. Ninguém se lembra da sua origem. É a mais remota e a única no seu género.
Consta de uma galeria, praticada no tufo local, a céu aberto e orientada no sentido Poente-Nascente. No fim dela, após um breve desnível, abre-se a mina subterrânea que se orienta para o Norte. Não consta que, alguma vez, tenha sido explorada até ao fim, no sentido do comprimento.
E porque se chamará Lagar a esta tão grande e farta nascente? Consta que um dos antigos proprietários da Mina, com as suas engenhoquices para facilitar a extracção da água, colocou lá uma peça de um lagar de azeite.
A Fonte abriu-se na parede que suporta as terras do Lagar. A água corria livremente de dia e de noite sem nunca parar, e foi ela que deu o nome de “Ribeiro” ao caminho que hoje ainda conhecemos por o “Caminho do Ribeiro”.
O abastecimento da fonte provinha exclusivamente do caudal da mina do “Lagar”, de onde se encaminhava por conduta subterrânea até à bica por onde se escoava.
Durante que período de tempo se terá o povo abastecido nesta fonte? Ninguém o sabe, no entanto, uma das probabilidades é quando a população teve água no sítio onde se estabeleceu a fonte que serviu a população durante mais de 300 anos, com sucessivas pesquisas e notáveis alterações no seu conjunto.
A darmos crédito a um documento referente à Confraria de Santo Estêvão, a fonte situada no “Caminho do Ribeiro” já no dia 2 de Março de 1688 tinha uma substituta. Nesta altura ela já era tratada por a “Fonte Velha”.
Pouco a pouco a “Fonte Velha” deixou de ter serventia, até que secou, ficando na parede a memória da sua existência.
Tempo veio em que até esta memória desapareceu por exigência de arranjos de conservação do velho suporte de terras. A tudo isto sucedeu o esquecimento completo.
Falar na Fonte passou a ser o mesmo que dizer aquela que a substituiu, e que também desapareceu por completo, ficando em seu lugar o fontanário que conhecemos actualmente.
Figure cada um na sua imaginação, a descida de dois pequenos lanços de degraus que deixavam a gente no patim da Fonte. Entretanto virando-nos para sul, logo à mão direita ficava o que todos chamavamos “A Fonte”, por excelência.
Era uma espécie de tanque, todo metido no chão, formado por quatro grandes lajes com cerca de 1,70 de altura e 1,50 de largo, e o fundo igualmente de pedra.
Este reservatório tinha em cima uma cúpula de quatro faces inclinadas feitas de tijolo, rebocado e caiado. No bico terminal das quatro faces havia um pequeno e simples florão de cantaria, até onde as crianças trepavam fincado a ponta do pé em pequenas escavações, abertas no tijolo.
A cúpula assentava numa cimalha de cantaria, sobre a qual era possível andar em volta da cobertura, com algum atrevimento. Só a parte que ficou virada a Poente ficou aberta na sua quase totalidade. Era nesta ampla e alta abertura que as pessoas mergulhavam cântaros e as bilhas.
Construída para substituir a Fonte Velha do “Caminho do Ribeiro”, deram-lhe por nome “A Fonte”.
Desapareceu quando o seu conjunto arquitectónico foi estupidamente demolido e soterrado por uma terraplanagem feita sem a menor sensibilidade e sem qualquer noção do valor do património espiritual e material desta Freguesia.
“Fonte de posso” lhe chamou o Padre Sebastião Vaz em 1758, de acordo com a terminologia da época, quando lhe deram o encargo de fazer o relatório dos estragos provocados pelo terramoto de 1755 nesta aldeia.
“Fonte de mergulho” e “fonte de chafurdo” se foram designando as fontes iguais a ela, nas quais a água se obtinha mergulhando a bilha com jeito, ou chafurdando tudo sem cuidado. A do Alqueidão, enquanto não chegou o vergonhoso fim que lhe deram, foi sempre na boca de toda a gente, “A Fonte”.
Sucedeu isto milhentas vezes, ao longo daqueles verões quentes e prolongados que obrigavam a péguia a baixar e faziam com que as bicas de metal, apenas deitassem um fininho fio de água: ficavam no patim uma tal restolhada de cântaros e de quartas que mal cabia um pé… E toda a gente ardia em pressa de se despachar.
Debaixo das bicas, os cântaros iam enchendo, aos pares, com enervante morosidade. Junto deles os donos aguardavam a vez de os retirar do sitio em que enchiam.
Mas, tão débil fio de água corria que acontecia muitas vezes eles bordarem e ninguém se aperceber do caso. Verificado isto, ouvia-se o lamento geral pelo facto de “estar a correr para a Fonte”. Aqui, “A Fonte” era o tal reservatório, de cúpula em formato de pirâmide, para o qual passava toda a água que as bicas deitassem e que não fosse aproveitada para encher os cântaros.
A água da nascente do Lagar, mesmo depois de a Fonte Velha ter desaparecido, continuou a alimentar o poço da fonte e todos os outros poços existentes na Várzea.
Com o aumento da população, e com a adopção de novos hábitos de higiene, foi feito o abastecimento domiciliar e, com a colocação das bombas no poço da Fonte secaram todos os poços da Várzea. O caudal da Mina deixou de ter qualquer expressão, e com o passar do tempo a Mina ficou completamente abandonada, estando, nos dias que vão correndo, completamente coberta por silvas.
Gente que apaga o passado … gente que adultera o passado
Gente que se pensa gente …
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Dulce, fazes um trabalho maravilhoso, obrigada por tao interessante informacao
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Foi defacto uma decisao infeliz quando alguem decidiu demolir a fonte que eu conheci. Foi um desapontamento imenso quando vi tal realidade. Infortunio!!!
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