1825
Do livro de registos de Baptismos da paróquia de Alcaria, consta que no dia 2 de Outubro de 1825 nasceu naquela Freguesia um menino a quem foi dado o nome de Manuel.
“Aos nove dias do mez de oitubro de mil oitocentos e vinte sinco nesta Parochial Igreja de Alcaria de minha licença baptizou o R.º João Ribeiro de Alcaria e pôs os Santos Oleos a Manoel que nasceo a dois do ditto mez e anno filho de João Afonço e de sua mulher Constancia Maria desta freguezia Netto Paterno de Jose da Silva e de sua mulher Maria Afonço Naturais e moradores no lugar e freguezia de Albados Netto Materno de Francisca Martins e de sua mulher Maria Rosa naturais e moradores neste lugar e freguezia de Alcaria forão padrinhos Monoel Afonço de Alvados tio Paterno do Baptizado e Vitoria Maria solteira do lugar do Zambujal tudo deste bispado de Leiria e para constar fiz este q asignei com o d.º Padrinho dia mez e anno ut supra”
Este menino veio a ser o Sr. Padre Manuel Afonso e Silva que foi prior de Alqueidão da Serra durante 35 anos.
Deve ter sido em meados de 1861 que o Padre Afonso tomou conta desta Freguesia, visto que o primeiro assento que ele assinou, tem a data de 24 de Junho desse ano.
Para assinalar o dia da sua chegada o Padre Afonso plantou o freixo que ainda hoje se encontra no adro da nossa Igreja.
A casa para onde foi viver ficava no Prazo (uma grande propriedade que ficava entre o antigo Caminho Velho, e a Rua da Chã). Era naquela altura, a melhor casa da região.
O estado espiritual em que encontrou esta sua nova freguesia era desastroso, mas o que mais o espantou foi a imoralidade.
O Padre Afonso rapidamente conquistou posição de onde podia chegar ao coração das pessoas. Os efeitos não tardaram e o Alqueidão começou a ser outro. Foi o Padre Afonso quem lhe fez conquistar de novo o brio e a dignidade.
Anteriormente à sua vinda, era muito difícil encontrar no Alqueidão quem soubesse ler ou escrever. Foi o Padre Afonso quem criou a primeira escola, que funcionava na sua própria casa e da qual ele era o único professor.
Na escola do Padre Afonso estudaram muitos nossos conterrâneos, entre eles:
- O Padre João Vieira Amado, que paroquiou esta Freguesia e morreu em Torres Novas, onde também exerceu o ministério sacerdotal;
- O Padre Joaquim Vieira da Rosa, pároco de Alpedriz, Porto de Mós e Alqueidão da Serra;
- O Padre Júlio Pereira Roque, durante alguns anos coadjutor em Porto de Mós, Capelão da Condessa da Penha Longa, jornalista fogoso, de aprimorado estilo e aguda visão dos problemas político-religiosos, batalhador das lutas de Deus e da Pátria, a quem se deve, em boa parte, a restauração da Diocese de Leiria. A ele deve também esta Freguesia, o facto de o olival do Santíssimo não ter levado a mesma volta que levaram os frades de Alcobaça.;
- O Padre Francisco Vieira Inácio, prior de Pataias e da Abrã;
- O Padre Joaquim Pereira, que exerceu funções eclesiásticas em Loures e Nazaré, acabando seus dias como Vigário de Itacoatiara (Brasil);
- O Padre Francisco Vieira Real, prior de Sesimbra, de cujo município, foi secretário;
- O Padre António Vieira da Rosa, pároco do Juncal, Rio de Mouro e do Gradil
- O Padre Francisco Vieira da Rosa, que foi Beneficiado e prior da Sé Patriarcal de Lisboa.
- Lourenço da Costa, Fiscal Geral dos Hospitais Civis de Lisboa, cuja vida cheia de benemerências é um título de glória para a terra onde nasceu.
- Afonso Vieira Dionísio, distinto e valente oficial da nossa Marinha Mercante durante a 1ª Grande Guerra.
- João Soares, (pai do Dr.Mário Soares) Governador Civil da Guarda e de Braga, antigo Ministro, homem de muito altas e reais qualidades de carácter, de inteligência e de coração, herdadas de sua mãe.
Alguns rapazes que estudaram na escola do Padre Afonso continuaram depois os seus estudos no Seminário de Santarém.
Mesmo depois de criada, por sua influência, a cadeira de instrução primária no Alqueidão, o Padre Afonso continuou com a sua escola aberta para os que não podiam frequentar a escola publica.
Para além da instrução primária, o Padre Manuel Afonso e Silva fez um vastíssimo trabalho para o desenvolvimento da nossa Freguesia. Das obras feitas por sua influência, destacam-se:
- A IGREJA — O templo, que veio encontrar, devia ser, com pequena diferença, a modesta capela que, em 1620, o Bispo Diocesano D. Martim Afonso de Mexia levantou à categoria de igreja paroquial. Mas estava em péssimas condições. Encontrava-se em estado impróprio da casa de Deus. O Padre Afonso transformou-a. Nesse tempo, a entrada principal dava para a estrada, ficando, portanto, a capela-mor, no lado oposto. Foi o Padre Afonso quem deu outra orientação à igreja, fazendo nela as modificações permitidas pelos magros recursos financeiros de então.
- A SENHORA DA TOJEIRINHA — Das beneficiações introduzidas pelo Sr. Padre Afonso nesta velhíssima ermida dão fé as paredes da Capela-Mor. Nelas se vê onde, na parte velha, ligou o acrescento que a levou ao ponto em que a temos hoje.
- O CEMITÉRIO é também obra do Padre Afonso. Até à sua vinda, faziam-se no adro os enterramentos.
- A FONTE— Também aqui se estendeu à acção do Padre Afonso. Vinha de longe a luta de nossos avós com a falta de água.
- A ESTRADA — O Alqueidão vivia isolado e preso no cimo da serra onde estava implantado. Não tinha uma estrada que o ligasse à sede do Concelho. Ia-se até lá, descendo ao Falgar, cortando depois para os Tojeiros ou para o Zambujal e atravessando a Cunca, de onde, a meia encosta da Cabeça, se caminhava por um carreiro. Para obter os necessários melhoramentos teve o padre Afonso que se embrulhar nos enredos políticos daquele tempo, tendo a sua acção sido muitíssimo importante para a abertura da estrada.
Foi também o Sr. Padre Afonso quem pediu e obteve do Papa Pio IX, em 11 de Junho de 1872, os privilégios espirituais do Jubileu de S. José.
O padre Manuel Afonso e Silva faleceu em 26 de Novembro de 1908. Tudo o que conseguiu amealhar ao longo dos anos deixou ao Seminário de Santarém e à sua terra adoptiva Alqueidão da Serra.
Obrigada Dulce, as historias que nos envias Sao deveras muito interessantes. Sera que alguem de direito sera capaz de iniciar a recuperacao da campa de tao ilustre personagem? Certamente, quando da minha proxima visita a Portugal irei carinhosamente procura-la .
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Mais um excelente trabalho … Parabéns Dulce.
Pena … pena mesmo é que, numa terra como esta em que gente inteligente não falta ( a avaliar pela quantidade de drs) não haja, depois, gente com coragem para participar, elogiando ou não, mas assumindo opinião própria …!
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Obrigado
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