O primeiro domingo da Quaresma era o primeiro dia, e o mais indicado, para a realização do contrato sem escritura e sem testemunhas. Também podia celebrar-se em qualquer outro domingo da Quaresma, inclusivamente até ao Sábado Santo ou de Aleluia, que era o último antes da Páscoa.
Isto no respeitante a tempo. Quanto aos intervenientes, qualquer pessoa tinha idoneidade bastante para o realizar, contasse que anos contasse, fosse de que sexo fosse. Era de uso corrente entre companheiros da escola, amigos, parentes, namorados, etc.
Como acontecia que, cada um por seu lado, podia realizar um número ilimitado de “contratos”, verificava-se existir em certos anos, uma rede complicada e extensa de envolvidos nesta distracção.
Chegavam as coisas a pontos de haver quem se esquecesse de uma parte daqueles com quem se comprometera pelos laços contratuais e daí, vir a ser apanhado.
Depois da mútua combinação, vinha o “contrato”. Este obedecia a normas que eram observadas por ambas as partes. Os termos do contrato eram pronunciados em voz alta pelos contratantes, e resumiam-se a isto:
– “Contratar, contratar; quando eu te mandar rezar, reza!”
Enquanto diziam isto, cumpriam uma formalidade que consistia em, dobrados os dedos médio e anelar das respectivas mãos direitas, engancharem os mendinhos e indicadores, tocavam a cabeça dos polegares e ao mesmo tempo balançavam as mãos à maneira do vulgar cumprimento.
Ficava contratado que, no primeiro encontro que tivessem no Domingo de Páscoa, se mandavam “rezar”, procurando cada um adiantar-se ao outro para ser o vencedor. O prémio era um pacote de amêndoas. Ficava desde logo estabelecido o tamanho do pacote e a qualidade das amêndoas, para evitar complicações.
Aquele que, efectivamente, quisesse vir a ser o vencedor, tinha de tratar de uma montagem de expedientes de tal forma eficazes que o levassem a ser o primeiro a atirar à cara do outro, o seu vitorioso “Reza”.