O Correio

A notícia mais antiga a respeito da maneira como o Alqueidão recebia o seu correio, vem na “Memória Paroquial”, escrita em 28 de Março de 1758, e diz assim:

“Não há nesta terra Correyo e valese do Correyo da Cidade de Leiria, a qual desta terra duas Léguas e meia está distante”.

Depois disto, segundo informação dos Correios, é absolutamente certo que o correio já funcionava em 6 de Setembro de 1895, data da última reunião camarária antes da extinção do Concelho.

Nesse tempo, a mala chegava ao Alqueidão pela via de Porto de Mós. Com a extinção do Concelho, o correio passou a receber-se vindo do Reguengo do Fetal.

1898Mais de um ano depois, por decreto de 13 de Janeiro de 1898, foi restaurado o velho Concelho de Porto de Mós.

A Freguesia do Alqueidão da Serra esperou pacientemente que lhe restituíssem o benefício da modalidade da recepção do correio que injustificadamente lhe tiraram. Como isso não aconteceu, reclamou publicamente valendo-se dos préstimos do jornal “O Portomozense”.

Na edição de 2 de Fevereiro de 1899, informava o jornal:

“Recebemos a seguinte reclamação:

Sr. Director do “Portomozense”. Os abaixo assinados pedem a V.Exª que se interesse no seu mui lido jornal para que o correio do Alqueidão da Serra seja feito por Porto de Mós e não pela Batalha, por disso lhe resultar bastante prejuízo. Alqueidão da Serra, 30 de Janeiro de 1899.

José Vieira da Rosa, João Vieira Dionisio, Joaquim Vieira da Rosa, Domingos Pereira Brioso, Joaquim Ribeiro, Hermano dos Santos, António Pedro Rato, José Amado, Francisco Ribeiro, Antonio Amado, Felicissimo Vieira, Manuel de Matos, Manuel Carreira, Simplicio dos Reis Calvario, Joaquim dos Reis Calvario, José Carvalho Primavera, José Vieira Saragoça, José Pereira Roque, Manuel Ferreira Cecilio, Francisco Vieira Alfaiate, José Baptista Amado.

É de inteira justiça esta pretensão porque o modo como actualmente é feito o correio para o Alqueidão da Serra prejudica imenso os habitantes daquela freguesia. Assim, sendo apenas distante desta vila seis quilómetros, as cartas deitadas nas caixas postais daqui, são mandadas para Leiria, daí para a Batalha, depois Reguengo do Fetal e por último Alqueidão da Serra, não sendo recebidas no mesmo dia, o que por maneira nenhuma se justifica. Além disso, acresce a circunstância do correio por essa forma ser mais caro, além de mal feito.

Feito o correio como antes da extinção do Concelho, isto é, de Porto de Mós directamente ao Alqueidão, é que deve ser, pois é esta a forma seguida para todas as outras freguesias.

Chamamos portanto, para este assunto de importância inadiável a atenção do Sr. Director dos correios e esperamos que resolverá de harmonia com a vontade do povo do Alqueidão, que nada pede mais que justiça”.

A população apelou também junto da Câmara Municipal. A acta da sessão de 3 de Fevereiro de 1899 diz assim:

“Nesta foi presente uma representação dos povos da freguesia do Alqueidão da Serra, pedindo que lhe seja restabelecido o Correio diário entre a sede d’aquella freguesia e a d’este Concelho como succedia antes da extincção d’este mesmo Concelho: e a Camara resolveu por unanimidade officiar ao Ex.mo Chefe dos serviços telegraphos postaes d’este Districto, pedindo a S.a Ex.cia se digne propor ao Governo de Sua Magestade as providencias conducentes a que aquelle Correio seja feito directamente entre aquella freguesia e esta Villa, e não pelo Reguengo e Batalha como agora succede havendo assim uma demora de dois dias na recepção da correnpondencia, não obstante a distancia entre as duas povoações do Alqueidão da Serra e a sede do Concelho ser só de quatro kilometros”.

As coisas foram seguindo seus caminhos e a verdade é que a resposta chegou com segurança e rapidez. O jornal “O Portomozense”, do dia 16 de Fevereiro de 1899 , volta ao assunto desta vez para informar que:

“O Correio para o Alqueidão da Serra vai brevemente ser feito por Porto de Mós e não pelo Reguengo. Fica assim satisfeita a reclamação do povo daquela freguesia que publicámos no nº 4 do “Portomozense”.

A Estação Postal

Tempos depois de todas estas andanças, deu-se um facto de grande importância e relevo na história do correio do Alqueidão. Foi a mudança de categoria para a classe superior.

Em 1907 a Freguesia foi brindada com as vantagens de ser “estação de 4ª classe”. A subida em causa foi determinada na Portaria de 27 de Fevereiro do citado ano, e divulgada oficialmente pelo “Diário do Governo” de 4 de Março de 1907.

O problema foi a escolha do encarregado da “estação”, o que se conclui pelo tempo passado à espera da sua nomeação. É no “Diário do Governo” de 17 de Julho de 1907 que ela vem publicada na Portaria com data de 12 deste mês.

Diz esta publicação que, “José Vieira da Rosa, actual depositário da caixa postal em Alqueidão da Serra, concelho de Porto de Mós, distrito de Leiria, foi nomeado para o lugar de encarregado gratuito da estação de 4ª classe da mesma localidade, criada por Portaria de 27 de Fevereiro último”.

José Rosa e Esposa no Casamento do Sr. AdolfoPor não existirem documentos que comprovem o espaço de tempo que José Vieira da Rosa foi depositário da “Caixa Postal”,é impossível dizer quantos anos ele serviu gratuitamente o Estado e a Freguesia, como responsável pelo correio dela. Acresce ainda que a “estação” funcionava na sua própria casa, sem encargos para o Estado. O certo é que, a seu pedido, foi desligado da referida função, em 1935.

O Correio da República

Proclamada a republica, a população do Alqueidão vê-se de novo em apertos e dificuldades quanto ao serviço do correio, o único a ligá-la ao País e ao mundo por onde andavam numerosos filhos seus, no honesto trabalho para ganhar a vida.

No jornal “O Povo de Porto de Mós”, no seu número de 29 de Maio de 1912, lê-se o seguinte:

“Por despacho de há poucos dias, foram suprimidas as estações postais do Alqueidão da Serra e da Calvaria que passam só à categoria de postos de caixa postal.”

Chama-se a isto andar para trás. Isto afectava a população pelos muitos prejuízos que lhe trazia. Entre outras vantagens que se iam de vela com esta decisão estava o desaparecimento do serviço de registo de correspondência, tanto da expedida como da recebida.

É claro que o povo reagiu contra este ataque aos seus direitos por meio da reclamação que se impunha. Utilizou para isso o jornal mais lido da região, e apelou às comissões políticas do Partido Republicano Português, porque a República foi proclamada para comodidade dos povos e não para prejuízo deles.

Em cinco de Junho de 1912 o jornal “O Povo de Porto de Mós”, voltou ao assunto. Desta vez argumentou com o facto de a Mendiga (com menos população e, sob alguns aspectos mais inferior ao Alqueidão e à Calvaria) ter ficado na categoria postal de que estas duas freguesias se viram apeadas. E, ressalvando a estima que a Mendiga e suas gentes lhe merecem, publicou o seguinte:

“Não pode ser… Não é por causa da ridícula economia de 24.000 reis a mais que se prejudicam assim duas freguesias importantes do Concelho. A República não se proclamou para isso que só serve para alienar amizades e servir adversários”.

Logo na edição seguinte (12 de Junho de 1912) o referido jornal noticiou que a Comissão Municipal Republicana, e mais os encarregados das estações extintas, se deslocaram a Leiria, a fim de falar com o Governador Civil e com o Director Distrital dos Correios e Telégrafos.

1913O director do Jornal “O Povo de Porto de Mós” esclareceu que, pelo funcionário dos correios foi dito que “tinham sido muito bem suprimidas”, e justificou esta sua afirmação dizendo que, em 1912 o Alqueidão apenas tinha recebido sessenta e oito registos e expedido só quatro, e ainda utilizou o argumento das distâncias, dizendo que o Alqueidão, tendo a três quilómetros de distância uma estação, a do Reguengo, em que podia fazer seus registos, não estava em condições de se poder considerar mal servido.

Os encarregados das estações extintas e o director do Jornal “o Povo de Porto de Mós” argumentaram que o Director-Geral dos Correios e Telégrafos do Distrito ignorava a corografia, pois o Alqueidão tinha povoados a mais de doze quilómetros quer da sede concelhia quer do Reguengo. E quanto aos três quilómetros que medeiam entre o Alqueidão e o Reguengo, recomendaram-lhe que se deitasse a percorrê-los, a ver se mantinha o que dissera, depois de palmilhar os caminhos de pé.

No jornal, com agudo sentido das oportunidades, foi ao passado e salientou que a Monarquia deu, e nunca tirou, a Estação Postal do Alqueidão, ao passo que com a República, “o regime do povo e para o povo”, era o que se via.

O que é certo é que, graças à Comissão Municipal Republicana e à teimosa obstinação do director de “O Povo de Porto de Mós”, o Governo, reconsiderando sobre a prejudicial decisão, restituiu à Freguesia a regalia que lhe tirara. O Alqueidão tornou à posse da sua Estação Postal, que  tal como antes, continuou a funcionar na casa de José Vieira da Rosa, até 1935, ano em que este pediu a demissão de encarregado.

Casa de José Vieira da Rosa onde era preparado o correio para ser distribuído

Casa de José Vieira da Rosa onde funcionou a 1ª “Estação Postal”

Respondendo aos repetidos convites do responsável pelo Correio em Porto de Mós, Francisco Gabriel deixou-se nomear para o lugar que ficou vago, ficando a Estação Postal a funcionar na sua casa de habitação que era, e ainda hoje é, a última do lado esquerdo de quem deixa a povoação caminhando para o Poente.

Casa onde viveu o Fiscal Costa e Francisco Gabriel

Casa onde viveu Francisco Gabriel

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Francisco Gabriel não se fez velho no exercício das funções. Logo que lhe foi possível solicitou a libertação das responsabilidades que tomara.

Nesta altura a nomeação caiu em João Ferreira Cecílio, e os serviços foram instalados no estabelecimento comercial que este tinha, em frente ao adro, na sua parte virada ao Norte. Aqui se mantiveram os serviços durante muitos anos.

Em 20 de Julho de 1959 foi criada a Postal Rural e aprovado o giro do Alqueidão. . A Freguesia passou a ter a distribuição domiciliária do correio no dia 1 de Abril de 1960.

Taberna do Ti João Vitório

Em 5 de Junho de 1967, a Estação Postal foi transferida para a Rua de Cima, passando a ficar com José Augusto Silva Pereira na mercearia que explorava na altura, e que pertencia ao seu tio Francisco Vieira Patrão. O espaço onde funcionava esta mercearia veio a ser mais tarde a sala de jogos do café do Farinhas (Café Cordeiro).

Toda a população, desde o Casal Duro à Demó, dos Bouceiros às Covas Altas; do Covão de Oles aos Casais e Vales, passando pela Carreirancha, deitava sua correspondência na caixa, pendurada na casa onde funcionava o posto ou a estação. Aqui a procurava, também, sempre que, por qualquer circunstância, esperava carta.

Se a procura não era feita, então era o responsável pelo Correio da Freguesia que, de sua própria iniciativa, se encarregava de mandar recado aos destinatários mais afastados, de que tinham correspondência a levantar.selos1

Deixando a Rua de Cima a Estação Postal foi transferida para a Rua Adeferreiro, e ficou na mercearia da Ti Olivia até passar definitivamente para a sede da Junta de Freguesia.

O Alqueidão da Serra passou à categoria de Posto do Correio Telégrafo e Telefone, por despacho de 6 de Maio de 1965.

Mãe da Maria Pata

Escolástica Carreira

Ficava irremediavelmente cortada a história do Correio no Alqueidão sem uma referência, a Escolástica Carreira. Durante anos sem conta, ela foi a estafeta da mala do correio, a troco de uma paga ridiculamente pequena.

Desabassem do céu carradas de água, soprasse um vento cortante, caíssem escardoças de pedraço ou fizesse muito frio, lá ia ela, de mala à cabeça, para baixo e para cima, sempre, sem falha, enquanto pôde arrojar os pés.

Magra e desempenada, sempre de semblante alegre, cortês e sempre pronta para ser prestável em recados que não implicassem com o desempenho da sua missão, ela foi a responsável pela distribuição do correio no Alqueidão da Serra durante 36 anos. Este trabalho foi depois continuado pela sua filha Maria Carreira (conhecida por Maria Pata).

O Correio era distribuído todos os dias, menos ao Domingo. E iam aos Bouceiros 3 dias por semana.

Saíam de casa às 3 horas da madrugada, carregando uma mala grande fechada e selada. Chegavam a Porto de Mós às 4 horas e depois esperavam até às 6 horas que era a hora em que lhe entregavam a mala com a correspondência para o Alqueidão.

Maria Pata

Maria Pata

Enquanto esperavam pela mala com a correspondência, iam comprar as coisas que as pessoas lhes tinham encomendado. Nesta altura, o Correio em Porto de Mós era no Rossio.

De volta ao Alqueidão distribuíam o correio e as encomendas, de porta em porta. Mais tarde começaram a deixar o correio na casa onde estava a caixa postal, e depois as pessoas iam lá buscar.

Na altura que a ti Maria Pata deixou de fazer o correio, o ordenado dela era 200$00.

Ao todo, Escolástica e Maria Pata fizeram o correio durante 60 anos.

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A casa da Ti Maria Pata, junto à Calçada Romana (depois de retaurada)

O Carteiro

marinhaJosé da Silva Catarino, conhecido pela alcunha de “Marinha” como funcionário dos correios, começou a distribuir o correio nesta freguesia pouco tempo depois de ter sido criado o giro do Alqueidão, (Julho de 1959), e desempenhou a sua função de carteiro durante 36 anos.

No principio a mala do correio vinha para a casa onde estivesse a estação postal, era aberta pelo responsável pelo correio, e só depois a correspondência era entregue ao Carteiro para ser distribuída de porta em porta.

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Uma resposta a O Correio

  1. José da Silva Frazão diz:

    Feliz Natal a todos e que tenham um ano novo com muita paz, saúde e felicidade. Deus abençoe a todos. Parabens a Dulce Gabriel e ao Site do Alqueidão por este bonito e competente trabalho de que divulga, curiosidades e histórias de nossa terra. José da Silva Frazão ( Neto do José Frazão e do Bernardino da Silva) e Selma Gonçalves Frazão.

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