Visitas Pastorais

2016

15 de Maio de 2016 é o dia do Crisma em Alqueidão da Serra. É o dia em que o Sr.Bispo de Leiria nos visita. Este ano é maior o numero de candidatos a sacramento do Crisma, uma vez que em 2015 não tivemos a visita do Sr. Bispo.

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Outras Visitas Pastorais

1902

Por falta de testemunhos documentais torna-se impossível afirmar quando foi a primeira Visita Pastoral feita ao Alqueidão pelo Bispo de Leiria.

A primeira Visita Pastoral de que há notícia, foi a que o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Neto, levou a cabo no ano de 1902, quando o Alqueidão pertencia à diocese de Lisboa, por ter sido extinto o bispado de Leiria.

Este importante acto de natureza religiosa, começou no dia 26 de Abril de 1902. O repórter da história na altura foi o professor José Candeias Duarte, que era o correspondente do “Correio Nacional”, onde publicou o seguinte artigo:

“Chegou a esta terra, vindo de Porto de Mós, o Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, acompanhado pelo clero que estava com ele na Vila, e de muito povo. Aguardavam a chegada de Sua Eminência alguns padres e quase todo o povo da Freguesia, que esperava, apesar dos fortes aguaceiros que então caíam, com ansiedade que um sinal lhes anunciasse a chegada do ilustre visitante.

Às 11,30 formou-se na igreja a procissão, que se compunha das três irmandades erectas na Freguesia, a do santíssimo, do Coração de Jesus e de Nossa Senhora e de muitos anjos, para ir receber o Sr. Patriarca, debaixo do pálio, à entrada da Freguesia. Chovia então torrencialmente e o Rev.º Pároco, reconhecendo a impossibilidade da procissão sair, ordenou que só saísse o pálio.

Era meio-dia em ponto quando uma grande girândola anunciou a chegada do Sr. Patriarca à residência do pároco. É impossível descrever o entusiasmo, a alegria que se apoderou do grande número de pessoas que o esperavam. Todos, num brado uníssono e na alegria estonteante, levantavam muitos vivas a S.a Em.a.

O Sr. Patriarca revestiu-se na residência do pároco e dali saiu debaixo do pálio, acompanhado pelo clero dos concelhos de Porto de Mós e da Batalha, e por muito povo, para a igreja, sendo recebido à entrada do templo pelo Revº. Prior da Freguesia.

Depois das cerimónias do estilo, à entrada do templo, um coro de vinte criancinhas cantou o hino de S.a Em.a, ensaiadas pelo Revº. Prior. Vimos nessa ocasião S.a Em.a. tão impressionado, tão comovido que algumas lágrimas lhe deslizaram pelas faces.

As ruas por onde passou o Sr. Cardeal estavam ornadas com verdura e flores, muitas bandeiras e arcos. Na rua denominada de Cima, e que dá para a residência paroquial, viam-se alguns arcos triunfais e é ladeada por dois renques de paus, cobertos de verdura e flores, encimados por bandeirolas; estes paus são ligados por um cordão de buxo e alecrim. Esta rua foi ornada sob direcção do nosso amigo José Real, a quem felicitamos pela forma artística como se houve no desempenho da missão que lhe foi confiada.

À hora a que escrevo estão crismados novecentas pessoas. Noutra correspondência, direi o que houver de mais interessante, pois esta vai longa.”

Isto foi publicado no jornal “Correio Nacional de 2 de Maio de 1902.

O que vem a seguir, saiu no jornal do 14, mas foi escrito em 12, e diz:

“O segundo dia da visita, domingo, 27 de Abril, amanheceu também chuvoso. Não obstante porém, logo pela manhã, começou a afluir muito povo. À hora marcada por S.a Em.a. para celebrar a missa pelas Almas das pessoas sepultadas no cemitério desta freguesia, o templo estava repleto de fieis. S.a Em.a. ao Evangelho fez uma alocução substanciosa, atractiva e moralizadora, sobre o Evangelho do dia, “Eu sou a Videira e vós sois a vara”. O povo escutava-o em profundo silêncio. Simplesmente edificante!

Em seguida à missa, não podendo S.a Em.a. ir ao cemitério, como aliás era sua forte vontade, fez as orações fúnebres no corpo da igreja, procedendo logo depois, à administração do Crisma a mais de trezentas pessoas.

À noite houve terço e ladainha, com exposição e sermão pelo Revº. Dr. Cruz que, pela sua simplicidade, clareza e santidade, muito agradou ao auditório que, à cunha, enchia a igreja. Realçou muito esta cerimónia o acompanhamento feito no harmónio do pároco desta freguesia.

Segunda-feira, de novo vemos em volta de S.a Em.a. um numeroso concurso de filhos dóceis e humildes, conquanto a chuva estivesse ainda caindo. Neste dia foi administrado o crisma a mais de cem pessoas e, à noite, erigiu-se canonicamente e com solenidade a “Via-Crucis”, havendo também acompanhamento a harmónica e cânticos que mais de duzentas vozes fizeram ouvir. O número de pessoas crismadas sobe a mais de mil e cento e vinte.

Na terça-feira, dita a missa, despediu-se S.a Emº. Num discurso que fez a quem tantas provas de respeito e amor lhe tinham dado. Foi então que, pela segunda vez, vimos S.a Em.a. comovido, comovendo também a nós todos, clero e povo. As lágrimas foram a última prova de amor de S.a Em.a. por nós e de nós por S.a Em.a. Bem-haja o eminente prelado que assim sabe cativar os corações.

Às nove e trinta da manhã, partiu S.a Em.a. desta freguesia, em direcção a Serro Ventoso, acompanhado do pároco e vário clero e de muito povo. Apesar do mau tempo, foi encantadora e entusiástica a despedida. Mais de duzentas pessoas levantando vivas calorosas e cantando o Hino de S.a Em.a. seguiam o carro que devagar rodava pela estrada que leva a Porto de Mós. S.a Em.a vendo o sacrifício deste povo e com medo de que viessem a molhar-se, proibiu-lhe que fosse a Porto de Mós que fica a cinco quilómetros, como aliás era vontade do mesmo povo. Obedecendo, nem um só passo mais deu, mas triste e fiel à voz do amor, ajoelhasse, implora uma última bênção do prelado, levanta-lhe vivas, e até nos perdermos de vista, ficam aquelas duzentas pessoas fazendo estrugir no espaço, o hino.

E assim terminou nesta Freguesia a vista de S.a Em.a o sr. Cardeal Patriarca, D. José III, que nos deixou indeléveis recordações e profundas saudades. Em toda a Vigararia o Prelado tem sido sempre bem recebido, e uma nota de solenidade há que, ainda não foi referida, é que em todas as freguesias tem comparecido uma filarmónica, o que tem dado muito realce às recepções.”

A esta minuciosa e brilhante narrativa, ainda faltam acrescentar alguns acontecimentos vividos durante o tempo em que Cardeal Patriarca, D. José III, esteve no Alqueidão da Serra.

Um deles diz respeito a Joana de Jesus Barbeiro que, nesse tempo, era mãe de filhos já crescidos. Tendo adoecido com um forte ataque de gripe, que a deixou de cama, viu-se na aborrecida contingência de não receber o sacramento do Crisma, naquela oportunidade, o que era o mesmo que dizer que tarde ou nunca chegava a crismar-se, dado que as Visitas Pastorais se espaçavam muitíssimo umas das outras.

Lamentou-se a senhora da sua má sorte. E o caso é que a noticia da sua impeditiva doença, juntamente com o sentido pesar da candidata ao Crisma, chegaram aos ouvidos atentos do Senhor Bispo. Nada mais foi preciso para que o Patriarca dispusesse as coisas de forma que se cumprisse o desejo da enferma. Asseguia Castelhana abaixo, ele ai vai, liturgicamente paramentado, ministrar o Sacramento, debaixo de uma chuvinha miudinha, contra o qual nem sequer quis a defesa dum simples guarda-chuva.

Outro acontecimento vai dar mesmo ao Dr. Cruz. O Padre Francisco Rodrigues da Cruz, era este o seu nome completo, chegou ao Alqueidão antes do Cardeal Patriarca, a fim de, com a sua esclarecedora pregação, dar os últimos acabamentos na preparação de toda a gente para os actos em que tomaria parte, mais ou menos directamente.

Pela simplicidade do seu trato, conquistou imediatamente a total simpatia dos homens, com os quais se punha a conversar, no adro, antes dos ensinamentos que dava na igreja.

Neste meio tempo, espalhou-se entre a população a notícia dum facto que aumentou notavelmente a fama das muitas e grandes virtudes do Dr. Cruz, já faladas por todos. Esse facto vinha a ser, que ele tomava banho todas as noites em água fria, durante qualquer estação do ano, como acto de penitência.

As relações entre as partes chegaram a tal ponto, que os homens batalharam tanto com ele para voltar, dentro em breve, a fazer uma missão na Freguesia, que o bondoso sacerdote, em ar de graça, lhes cortou a insistência, dizendo:

– “Tornarei pela água-pé nova.”

Em Novembro, fixaram logo a data, ao que o P.e Cruz, por ver que as suas palavras eram interpretadas rigorosamente à letra, não teve remédio senão diminuir as esperanças, condicionando o regresso de forma pesarosa:

– “Se eu puder.”

Naquele vibrante adeus, de quem se despediria o Povo do Alqueidão? Do Cardeal-Patriarca ou do Padre Cruz?

Até à restauração da diocese de Leiria, foi esta a última vez que a Freguesia recebeu a visita pastoral dum Bispo.

1922

O acontecimento voltou a dar-se quando Leiria voltou à sua antiga dignidade de sede de bispado. Foi no dia 4 de Setembro de 1922, estando o governo da Diocese confiada a D. João Alves Correia da Silva.

O Prelado chegou à sede da Freguesia às 10 horas da manhã, acompanhado por seu secretário, o Padre Augusto de Sousa Maia e pelo Padre José Ferreira de Lacerda, devendo a presença deste atribuir-se à circunstância de viver, no Alqueidão, o Padre Júlio Pereira Roque, seu dedicado companheiro de luta pela restauração do bispado leiriense.

Esperava-o todo o povo, com as irmandades da Freguesia e crianças da primeira comunhão, que eram 110, tendo à frente o Pároco, auxiliado pelos Reverendos Dr. Joaquim Coelho Pereira (Batalha), Agostinho Cristóvão (Alvados), José da Cunha Gomes e José Marques.

Todos os actos da visita foram abrilhantados pela filarmónica dos Marrazes. A descrição pormenorizada e completa deste facto pode ler-se em “O Mensageiro”, de 9 de Setembro de 1922.

O mesmo Prelado ainda visitou a Freguesia mais uma vez, pelo menos. Em obediência às leis eclesiásticas, os Bispos que lhe sucederam têm repetido as visitas de acordo com a evolução da moderna técnica de evangelização.

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Obrigado pela visita. Volte sempre!

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