Chamava-se Maria Amado, nasceu no Alqueidão a 27 de Janeiro de 1906 e foi batizada logo no dia 4 do mês seguinte.
Veio a casar com José António dos Santos, mais conhecido por José Carolino, em Agosto de 1930. Chamavam-lhe Maria Saloia.
Seu marido, o ti Zé Carolino, era um homem alegre, sempre bem disposto e amigo de contar as anedotas mais brejeiras. Ele era indispensável em tudo quanto eram pequenas obras e arranjos que era necessário fazer na igreja, e na preparação das festas religiosas. Durante muitos anos, ele e a esposa fizeram urnas (caixões) artesanalmente, para sepultar os seus conterrâneos. Os últimos enfeites era a ti Maria Saloia que fazia.
Mãe de 11 filhos, que criou com enormes dificuldades, uma vez que o sustento provinha unicamente de um velho moinho de onde retirava algum dinheiro e umas tigelas de farinha. Por vezes a única refeição do dia era um prato de papas de farinha de milho.
Muitas vezes ela dispensou farinha a quem não podia pagar, e esperou pacientemente por melhores dias…
Desde sempre em sua casa o terço se rezou em família, à lareira, e aos seus filhos contava histórias bíblicas e os acontecimentos de Fátima em 1917, a que assistiu, e que marcaram profundamente toda a sua vida.
Era grande a sua devoção a Nossa Senhora.

Maria Amado: a primeira à esquerda, no Centro de Dia de Alqueidão da Serra
Contava que em 13 de Outubro de 1917, foi a Fátima com a sua mãe e um grupo de pessoas do Alqueidão. Tinha então onze anos. Levava pela cabeça uma saia de riscadilho, e na mão uma saca de retalhos com meia broa e sardinhas fritas.
Deixou o farnel junto a uma figueira, e correu para perto da azinheira. De lá viu tudo. Assistiu ao milagre do Sol. Com uma grande lucidez de memória falava de Lúcia, do sol a girar e da chuva que se fez sentir nesse dia, e como de repente ficou tudo seco, como se não tivesse chovido nada.
A ti Maria Saloia não sabia escrever, mas aprendeu a juntar as letras e lia muito.
A Bíblia era o seu livro de cabeceira, mas para além disso ela lia tudo sobre Fátima, e os jornais de índole religiosa da Diocese.
Era também devota de Santo António, e por isso muitas pessoas iam ter com ela para que rezasse o Responso, quando perdiam alguma coisa.
Vitima da doença de Parkinson, tremia muito e tinha uma enorme dificuldade em falar. Nos últimos anos da sua vida, frequentou o Centro de Dia de Alqueidão da Serra, onde era muito estimada por todos.
Faleceu em Agosto de 1994. O seu funeral foi uma grande manifestação de amor, admiração e pesar. Ficou sepultada no cemitério de Alqueidão da Serra.
A minha avó paterna que sempre admirei pelo amor que tinha aos netos. Nao tendo vida fácil, em tempos de muita miséria, superou com muita coragem as provações que a rodearam. Sem escola, acabou por ser uma autodidata, aprendendo a ler. E lia muito. Que bem me recordo da grande quantidade de livros que existiam naquela casa, tão humilde, como humilde era o casal.
GostarGostar
A família retratada eram meus tios avós. Conheci muito bem a minha tia avó Maria Saloia, embora não conhecesse a sua história, no entanto e ainda garoto tive o prazer de privar com ele, nomeadamente quando fazia as montagens da das arenas para a realização das célebres vacadas por ocasião das Festas de S. Pedro em Porto de Mós.
GostarGostar