7 de Fevereiro de 1916
Durante o ano de 1916, assim como em outros anos da época posterior à vinda da República, muitas igrejas por esse Portugal fora sofreram assaltos. A igreja do Alqueidão não foi excepção.
O sacrilégio aconteceu durante a noite do dia 7 para 8 de Fevereiro, noite que se caracterizou por chuvas constantes e um vendaval medonho, logo depois do pôr-do-sol.
Quem praticou o assalto, arrombou o sacrário e espalhou as sagradas partículas pelo chão da igreja e roubou os valores que achou à mão. A tentativa de arrombamento do cofre, em que se guardavam jóias de ouro e objectos de prata, não deu resultado nenhum, apesar das violências praticadas ao mesmo.
Nunca se descobriu o autor desta criminosa proeza, no entanto, o caso deu que falar, chegando-se mesmo a pôr os pontos num habitante do Alqueidão, o qual, no entanto, se justificou.

José de Matos e esposa
Este assalto não se evitou, por um triz. Aconteceu que pelas 11 horas da noite, na rua que fica a ocidente do adro, José de Matos, reparou que havia luz na, então, chamada sacristia velha, onde também ouviu vozes.
Na convicção de que fosse o pároco e o sacristão, em preparativos para levar o Viático, não fez caso e seguiu o seu caminho. É que nem sequer fez qualquer tentativa de apuramento dos factos, erguendo-se à altura do muro, porque que na verdade o tempo também não estava para isso!…
Na manhã seguinte, dirigiu-se para o seu trabalho profissional em casa de um cliente, e eis que lhe aparece pela frente o Prior, mortalmente lívido e com muitas dificuldades no falar.
Pediu-lhe que o acompanhasse para entrar com ele na igreja, cuja porta abrira, retirando-se, profundamente abalado com o espectáculo, logo que deu de frente com a profanação.
Vistoriaram a igreja, onde, é claro, só deram com os variados e tristíssimos efeitos do assalto, sacrílega profanação, roubo e destruição.