TENTATIVAS DE “MORDAÇA”

Jupéro esteve detido na antiga cadeia de Sintra
A visibilidade social, o impacto das suas crónicas, a militância desassombrada e, por vezes, temerária no contexto político da época, fizeram de Jupéro uma voz a silenciar.
Primeiro foram os republicanos de Sintra através de algumas intimidações e de uma denúncia falsa que levaria o padre Júlio à prisão. Depois a própria Condessa de Penha Longa que, alegando estarem as crónicas do seu assalariado a colocar em perigo os negócios e património da Quinta, exigia discrição sugerindo veladamente o despedimento do seu capelão particular.
Nesta fase difícil da sua longa estadia de cerca de 8 anos em Sintra, o padre Júlio recebeu um apoio humanitário de peso, prova da amizade profunda que pode unir dois homens, muito para além das circunstâncias e da ideologia.
O gesto nobre partiu do conhecido republicano e ex-padre, João Soares — pai do antigo presidente da República, Mário Soares — que se dispôs a sair de Santarém onde exercia as funções de Governador Civil e deslocar-se à prisão de Sintra para exigir a libertação do seu amigo perante o Administrador do Conselho que bem conhecia.
Mesmo depois de João Soares ter atestado a idoneidade do padre Júlio e demonstrado a impossibilidade de ele ter cometido o crime de assassínio de que fora anonimamente acusado, o administrador não estava disposto a ceder. João Soares procurou então uma cadeira e, ainda de pé, tem esta persuasiva expressão: “Nesse caso afirmo-te categoricamente que não abalarei de Sintra sem que o padre Júlio seja posto na rua. Faz como entenderes.”
João Soares não necessitou de se sentar, segundo relato de Alfredo de Matos na sua monografia “Alqueidão da Serra – História e Lendas, Usos e Costumes”, Vol. I, p. 439.