Por ter fugido de meus pais
Sou mais uma desgraçada
Estendo a mão à caridade
Pelas esquinas encostada.
A família abandonei
Sem nada me lembrar
Deixei tudo arrastar
No futuro não pensei
O homem a quem amei
Deixou-me sem mais nem mais
O homem a quem amei.
Ele:
Bom dia formosa moça
Que está aí a pensar
Abalei de casa cedo
Só para ver se te encontrava
Só desejava saber se eras solteira ou casada
Ela:
Ainda agora aqui cheguei
Já voçê o quer saber
Mais tarde saberá
Se eu quiser dizer.
Ele:
E nem tudo se arranja com palavras e doçuras
Hoje em dia as raparigas têm-se por muito formosas
Hás-de cair no meu laço
Só por teres tanta finura.
Ela:
Ainda sou muito novinha
E não me quero casar
Há um ditado que diz:
“Quem está bem, deixa-se estar”.
Ele:
Não há nada que mais aborreça
Que é do homem à pancada
Se chegares a ser minha
Hás-de ser muito estimada
Ela:
Não há nada que não prometam
Quando se andam para casar
No fim de estarem casados
É o mais que podem dar
Ele:
Eu para isso não sirvo
Antes assim quero estar
nada tenho, mais nadinha
Não te quero oferecer, se aproveitares
o meu creto não te hás-de arrepender.
Ela:
Estou presa aos teus intentos
Aqui estou ao teu dispor
Não há nada que mais prenda
Que é o forte laço do amor.
Ele:
Vês agora linda Júlia
Dos protestos que fazias
Não casavas comigo, era só o que dizias
Agora estás gozando
da fortuna que pedias.
Ela:
Eu dizia-te que não queria
Que assim era o meu dizer
Não queria que tu me dissesses
Que eu me andava a oferecer.
Ele:
Agora estamos casados
Com toda a satisfação
Dá-me um beijo e um abraço
Júlia do meu coração.
Tu és a minha esposa querida
Eu sou teu marido inteiro.
(da tradição oral)