As nossas avós viveram num tempo em que as famílias eram muito numerosas, e todos viviam daquilo que a terra produzia. Os pais valorizavam muito mais o trabalho do que os estudos, mesmo assim alguns meninos puderam frequentar o ensino primário.
As meninas não, elas não precisavam de estudar. Faziam falta em casa para cuidar dos irmãos mais novos, para ajudar no trabalho no campo e para guardar o gado.
Eram educadas para serem boas donas de casa, esposas e mães. Tinham que aprender a cozinhar, lavar, passar, costurar, bordar, e tudo o que fosse preciso para tratar bem do marido e dos filhos.
Habitações
As casas de habitação tinham por regra dois quartos, a casa de fora, a cozinha, uma pequena dispensa e um sótão. Logo em frente à porta da cozinha estava o pátio e os palheiros dos animais. Não existia casa de banho, nem água, nem luz.
Mobiliário
Quartos: Cama de ferro e colchão de camisas, uma pequena cómoda e um lavatório.
Casa de Fora: Uma mesa ao centro com algumas cadeiras e um guarda-louça e arca. Aqui se recebia o Sr. Prior pela Páscoa, durante o ano esta era uma divisão muito pouco utilizada.
Cozinha: Lareira, um armário com espaço próprio para os cântaros da água, e uma mesa com algumas cadeiras.

Aspecto da cozinha. Tinha uma porta para a dispensa onde se colocavam as talhas do azeite e as salgadeiras entre outras coisas
As Tarefas do dia a dia
Cozinhar
Tudo se cozinhava ao lume, em cima da trempe numa panela de ferro. A púcara de cozer feijões estava sempre encostada ao lume. Para fazer as torradas encostava-se o pão caseiro ao ar do lume.
“Haja saúde e coza o forno” era uma expressão muito utilizada quando se falava das agruras desta vida.
Ao sábado cozia-se o pão para toda a semana. Para isso era preciso ir à serra com o burro buscar carrascos, e por vezes não havia lá muitos porque toda a gente precisava deles!
A farinha era produzida no moinho da Cabeça, no moinho do Covão de Oles, ou nos moinhos da Chã, com os cereais que os agricultores produziam.
Para fazer o pão a farinha era amassada num alguidar de barro, deixava-se levedar, tendia-se e levava-se a cozer no forno a lenha.
A Lavagem da Roupa
Lavar a roupa tinha que ser na Fonte. A não ser que perto de casa existisse um poço ou uma cisterna onde se guardava a água da chuva. Neste caso lavava-se a roupa em cima de uma pedra grande que existisse no quintal.
Quanto a detergentes, havia sabão azul e mais nada. Para a roupa ficar branquinha, lavava-se com sabão azul e depois colocava-se numa bacia com água e cinza. Deixava-se estar por umas horas e depois passava-se por água limpa. Ficava branquinha que dava gosto.
Passar a Roupa a Ferro
Era preciso colocar as brasas do lume dentro do ferro, e ir colocando mais brasas para manter o ferro quente. As famílias mais abastadas tinham um ferro com uma peça que se desencaixava, e era só essa peça que se aquecia no lume.
Limpeza da Casa
O soalho da casa toda, era de madeira. Tinha que ser esfregado com água e sabão, era encerado, e depois passava-se lustro com um pano seco.
Para tirar os maus odores de dentro de casa, queimava-se alecrim com um pouco de açúcar escuro em cima de uma telha.
Tratar dos filhos
As fraldas dos bebés eram de pano, depois de sujas eram lavadas, enxugavam ao sol e usavam-se de novo.
Um filho que nascia, era uma alegria. Mesmo que ele fosse o numero 14. Não era preciso fazer ecografias. Os sintomas de gravidez era conhecidos de todos, e para saber se estava mesmo grávida esperava-se, como o passar do tempo logo se via. O sexo do bebé via-se quando ele nascesse, o que ia acontecer no tempo próprio e com a ajuda da parteira, ou da mãe, ou das tias, ou vizinhas que na altura estivessem mais perto.
Como normalmente as casas só tinham 2 quartos, um quarto era dos pais e o outro era o quarto das raparigas. Os rapazes enquanto bebés dormiam com os pais, depois passavam a dormir em cima das arcas onde se guardavam os cereais, quando já fossem um pouco mais crescidinhos passavam então a dormir no palheiro.
As crianças ajudavam os pais no trabalho do campo. Um ditado popular dizia que “o trabalho do menino é pouco, mas quem o desperdiça é louco”. O resto do tempo brincavam na rua, mas quando ouvissem o sino tocar as ave-marias, às 20 horas, iam todos a correr para casa.
Aos domingos as avós preparavam um lanchinho e iam com as crianças para os “eucaliptos”, onde passavam a tarde a brincar. O ar dos eucaliptos fazia bem quando o pessoal estava constipado. Com as folhas do eucalipto fazia-se um chá bom para tratar febres e náuseas.
O Sustento da Família
O pai trabalhava todo o dia, ou na agricultura, ou nas minas, ou na construção, e por vezes tinha que sair de casa durante longos períodos, de acordo com o local onde arranjasse trabalho.
A mãe trabalhava em casa. Tinha que se preocupar em colocar comida em cima da mesa todos os dias, mesmo naquelas alturas do ano em que não existia dinheiro nenhum. Para isso criava galinhas, coelhos, porco e vacas, e cultivava os quintais mais perto de casa.
As coisas que não podia produzir, como arroz, açucar, velas, petróleo para os candeeiros, etc., tinha que comprar na mercearia.
As mercearias da aldeia, conhecidas por lojas, vendiam todo o tipo de coisas, mas não havia nada embalado. O arroz, açúcar, grão e outros cereais, chegavam à mercearia em sacos de serapilheira de 25 kg, que depois eram entornados para dentro das tulhas, (grandes caixotes de madeira com uma tampa) para serem vendidos a peso.
Era possível comprar por exemplo 250 gramas de açúcar, que era embrulhado num cartucho de papel manteiga.
O jornal União Nacional dedicado ao concelho de Porto de Mós, menciona os comerciantes do Alqueidão da Serra, todos eles donos de mercearias.
Estatísticas
Início do Século XX
Segundo o Censo de 1900 a população total do Continente e Ilhas era de 5.428.659 habitantes. Nesta altura Portugal tinha 17 distritos. A grande maioria vivia no campo. Menos de 20% desta gente toda era de condição urbana, e destes 20% mais de metade vivia nas cidades de Lisboa e Porto.
A Economia Agrícola
Nas primeiras décadas do século XX, Portugal tinha um elevado índice de pessoas que trabalhavam no campo. Em 1910, cerca de 85% da população vivia da agricultura. Esta atividade era praticamente o único meio de subsistência dos habitantes da freguesia de Alqueidão da Serra.
Aqui as culturas mais importantes eram as da oliveira, da vinha, da batata, do trigo e do milho, logo seguidas de outras como a fava, grão-de-bico, chicharo, aveia e cevada.
O milho e o trigo eram utilizados para consumo dos agricultores e suas famílias, a aveia e a cevada era mais para alimento dos animais.
Nos quintais e hortas mais perto de casa, cultivavam-se alfaces, nabos, cenouras, feijão verde, couves, alhos, cebolas, etc.
A População
Na Freguesia de Alqueidão da Serra (segundo o censo de 1900), viviam 561 pessoas do sexo masculino e 619 do sexo feminino, distribuídas por 285 habitações.
O Serviço Militar
Aos 18/19 anos os jovens eram chamados para a inspecção militar (provas físicas e médicas) e habitualmente eram incorporados no ano em que cumpriam o 20.º aniversário.
O serviço militar era obrigatório, mas a lei permitia a dispensa do mesmo em troca de 150 mil reis, que podiam ser pagos em três prestações. Além disso estavam dispensados os indivíduos deficientes, inválidos, ou que fossem o amparo único de mãe ou irmão.
O tempo de recruta, de instrução militar básica, durava cerca de três meses e o restante tempo de serviço era cumprido na unidade para onde o militar era enviado. O principal objectivo, de acordo com a legislação, era a defesa da pátria.
O serviço militar obrigatório terminou em Setembro de 2004.
A fé que nos salva
Povo de grandes tradições religiosas, rezava-se o terço em família, quase todas as raparigas pertenciam à Pia União das Filhas de Maria, ou à Ação Católica, ou ao Apostolado da Oração, e existia uma enorme devoção a Nossa Senhora.
Com o passar o tempo as pessoas foram-se afastando da Igreja. Ainda levam as crianças à catequese, mas já não têm tempo de ir à missa logo a seguir. Os jovens fazem o Crisma e nunca mais ninguém os vê nas actividades da Igreja. Cada qual tem a sua própria fé.
Somos batizados e no entanto afastamo-nos, desviamo-nos…
É tempo de voltar para casa.
Uma boa recolha e partilha. Gostei de saber. Obrigado.
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