Para facilitar o cumprimento do preceito da missa dominical e de outros deveres religiosos, o padre Francisco Carreira Poças, juntou-se às pessoas residentes nos locais mais afastados da sede da Freguesia para estudarem a possibilidade de construção de uma capela.
O problema mais difícil de ultrapassar foi a sua localização, porque não se entendiam de forma nenhuma as populações dos lugares de Bouceiros, Casal do Duro, Covas Altas, Demó, Lagoa Ruiva e Valongo.
Foi em 1904, depois dos ânimos serenaram, que foi possível começar a obra, tendo sido escolhido um local que ficava próximo da povoação de Bouceiros.
São Bento foi o orago escolhido e, por isso mesmo, a sua imagem ficou no altar-mor; os dois altares laterais receberam as imagens de Santa Quitéria e Nossa Senhora da Saúde.
As cerimónias de inauguração da Capela começaram a 24 de Junho de 1905 e continuaram no dia seguinte. A narrativa vem publicada em ”O Portomozense”, de 14 de Julho de 1905, e reza assim:
“Realizou-se com toda a pompa e enorme concurso de povo, nos dias 24 e 25 do passado, a sagração da nova capela e festa a Santa Quitéria, no lugar dos Bouceiros, freguesia do Alqueidão.
Às oito horas da manhã foram conduzidas processionalmente as imagens de S. Bento e Sta Quitéria, da Igreja matriz até à nova capela, situada num lugar pitoresco e ameno.
Ali no meio de inumerável multidão, procedeu-se à cerimónia da sagração a que se seguiu missa cantada, orando o Revº. Pároco, nosso amigo Padre Poças, que cheio de justificado entusiasmo por ver coroados de êxito os seus esforços de dois anos, proferiu um discurso que arrebatou todo o auditório, superior a três mil pessoas.
Seguidamente, pôs-se em marcha uma bem dirigida procissão a que dava todo o realce uma enorme fila de mais de duzentas ofertas.
De tarde, arraial em que se deu um desagradável incidente, devido a rixas antigas entre os povos de lugares próximos.
Mais uma vez felicitamos os nossos amigos Padre Poças e todos os seus cooperadores.”
As desavenças a que se refere “o desagradável incidente”, deviam-se exactamente às diferenças de parecer quanto à localização da capela, embora ela tenha sido construída num local que ficava mais ou menos à mesma distancia para todos.
A Capela não tinha rendimentos fixos e certos, de qualquer natureza. Os povos dos lugares por ela servidos é que a mantinham por diferentes maneiras. Uma fonte de receita era a contribuição anual de uma quarta de milho, a que se comprometiam os habitantes daqueles lugares, e, com este pagamento, habilitavam-se à bênção de seus animais, quando raivosos.
Apesar de já existir capela, não havia missa nos Bouceiros com carácter de regularidade.
O padre Henrique, e mais tarde o padre Manuel Ferreira, deslocavam se a pé, ou de burro, para chegar até aos Bouceiros, subindo a serra por um caminho aberto entre mato e pedras.(1)
Algumas vezes ficavam hospedados na casa da Senhora Josevina, e celebravam a missa no dia seguinte. A Senhora Josevina era invisual, e tinha na sua casa o chamado “quarto do Padre”.
O Sr. Padre Manuel Ferreira, que antecedeu o padre Américo, chegou a deslocar-se de moto. Chegava lá muito mais rápido na sua vespa.
O Cruzeiro de cantaria foi levantado no adro em 1912, e nele fizeram gravar a seguinte inscrição:
ADRO DE
SANTA QUITÉRIA
DESTINADO AS
BÊNÇÃOS
Em Julho de 1956, o primeiro número do boletim paroquial, que se publicou na Freguesia, com o nome de “Sol da Serra”, informava que tinha “sido entregue ao Senhor Bispo o novo projecto de ampliação da capela dos Bouceiros”.
O projecto embarrancou e assim ficaram as coisas por quase dez anos.
Estes anos incluem o tempo despendido pelos técnicos de arquitectura no estudo e elaboração do novo projecto, e também o tempo que a comissão eclesiástica demorou na apreciação que lhe competia, segundo as normas diocesanas para a arquitectura religiosa.
Foi em 19 de Julho de 1965 que se rezou a derradeira missa na capela primitiva. Depois deste acto religioso, um grupo de cinquenta e seis homens deu inicio ao arrasamento e à transferência do entulho.
O projecto, da autoria do arquitecto Célio Lopes Cantante, nada tem a ver com o inicial onde se falava da simples alteração da estrutura antiga.
O novo templo, mede no comprimento de 26,100 m, na largura e na altura de 7,350 m. Tem acoplada uma torre de 15 m de alto com dois sinos.
Há que referir que a mão-de-obra, na quase maciça totalidade, foi oferta absolutamente gratuita. Dias houve em que se apresentaram a trabalhar gratuitamente nas obras de construção da capela, cinquenta e três homens.
Tudo o que se despendeu no arrasamento da capela velha e na construção da actual saiu da generosa algibeira dos habitantes de Bouceiros, Casal do Duro, Covas Altas, Demó e Valongo, ou seja dos 172 fogos que, naquela altura, povoavam os ditos lugares.
Para que mais facilmente se avalie o sacrifício deles, e se aprecie o volume das suas contribuições periódicas, declara-se que, segundo a estimativa da época, orçava tudo, muito por baixo, num pouco mais de mil contos! A maior glória daquela gente, é não ter recebido um chavo, a título de subsídio!
Da capela antiga não existe qualquer registo fotográfico, no entanto o Sr. António Vieira emigrante no Canadá lembra-se muito bem dela. Ele é que era o sacristão.
O Sr. António é filho da Maria dos Anjos, que vendia queijos. Quando ainda vivia nos Bouceiros foi sacristão na antiga Capela. Depois emigrou para o Canadá, onde permanece até aos dias de hoje.
A ele se deve a maquete, feita de memória, com todos os pormenores, para que as gerações futuras saibam como era a Capela dos Bouceiros que os nossos antepassados construíram naquele lugar, onde iam à missa e onde recebiam os sacramentos.

Maquete da antiga Capela dos Bouceiros feita pelo Sr. António Vieira, emigrante no Canadá.
Seria deveras interessante trazer a maquete para os Bouceiros, se essa fosse também a vontade do Sr. António.
(1) A estrada que nos liga aos Bouceiros só começou a ser construída em 1966, quando o Povo do Alqueidão e Carreirancha se juntaram e iniciarem as terraplanagens. Ficou concluída em 1970.
Obrigado por Partilharem como Emigrante há longos anos aqui no Canadá fiquei surpreendido por esta linda notícia nos chegar cá,como natural de Leiria e ter passado aí no Alqueidao fiquei alegre em saber algo de valor da vossa Terra,vos desejamos muitas felicidades para todos aqui da Família de José Ribeiro e Família,Obrigados.
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Recordo a confraria de santa Quitéria,todos os anos vinha um grupo de homens a Alvados cobrar a cota da confraria, em Alvados havia muitos confrades não sei quanto se pagava mas lembro que era milho recebia-se em troca uma merendeira muito pequenina que nos protegida dos cães raivosos. (Anos 50) séc passado.
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Que memória. Ainda me lembro daquela velha capelinha.
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Que pena terem destruído uma capela tão antiga acho até que foi um crime, brinquei tanto a volta dela e quantas vezes assisti lá á missa e as festas que saudade!
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