No rol das profissões desaparecidas encontramos os Estanqueiros, que eram comerciantes que tinham o monopólio da vendas de alguns produtos.
Domingos Vieira Pedro natural da freguesia do Alqueidão da Serra, onde também morava, foi o primeiro comerciante a ter o privilégio da venda de tabaco, que lhe foi concedido pela Câmara Municipal, conforme consta do livro de “Privilégios” da Câmara Municipal de Porto de Mós, com o termo de abertura em 15 de Dezembro de 1827.
Quanto aos privilégios, eles eram bastantes. Em seguida podemos ver apenas alguns deles:
- Poderem usar e trazer “armas offensivas e defensivas, e ainda as prohibidas pela Ley novíssima”;
- Não pagarem décima do que lhes viesse da venda do tabaco;
- Poderem executar os devedores por aquisição de tabaco como se se tratasse de dívida à Fazenda Nacional;
- Pedir às autoridades que dessem varejo em casas, quintas, barcos ou navios, onde soubessem ou desconfiassem da existência de tabaco de contrabando, etc.
Durante muitos anos foi Domingos Vieira Pedro o único a desfrutar as regalias do tabaco nos limites da Freguesia. João Baptista Vieira Amado foi o segundo a beneficiar deste comércio. A sua nomeação foi registada na Câmara de Porto de Mós a 11 de Janeiro de 1841.
João Batista Vieira Amado era filho de Domingos Vieira Amado e Francisca da Silva de São José, casou com Joana da Silva e teve 9 filhos, eram eles: Maria de Jesus, Manuel, Joaquim, Joaquina, Maria Vieira, Manuel Jesus, Baltazar, José e Francisco, todos eles de apelido Vieira Amado. Eram descendentes dos Amados de Aljubarrota que viviam nas Pedreiras.
No 1º de Maio de 1843, João Baptista Vieira Amado renovou o seu privilégio até ao último dia de Abril de 1846.
Depois veio Francisco Baptista Amado e Manuel da Costa, que entraram ao mesmo tempo para o negócio do tabaco, como estanqueiros. Os seus privilégios foram registados na Câmara de Porto de Mós em 26 de Maio de 1848.
A 30 de Novembro de 1852, o encarregado da Administração dos Tabacos de Leiria, Miguel Joaquim Leitão, renovou o privilégio de Domingos Vieira Pedro.
Em 1856 entrou neste negócio Francisco da Costa, filho de Manuel da Costa.
Na vigência do Contrato do Tabaco foram estes os que venderam a famosa “erva santa” que os nossos avós enrolavam na mais fina camisa de milho das desfolhadas para fazer os cigarros.
Havia quem gostasse mais de cheirar o rapé, e neste caso, as folhas de tabaco depois de finamente moídas com um seixo muito polido eram colocadas numa tachinha de barro e aquecidas ao borralho da lareira.
Quem tinha o hábito de cheirar o rapé era o ti João Biscoito, que era conhecido em todo o lado por fazer as previsões do tempo. Ele olhava para as nuvens e dizia se amanhã chovia ou não…. e raramente se enganava.

O João Biscoito a cheirar o rapé (desenho de Francisco Furriel)
Em 1906 terminou o Contrato do Tabaco e o governo assumiu o controle da produção e venda do tabaco. Em 1927 nasceu “A Tabaqueira”, que fabricava os cigarros que o pessoal fumava muitas vezes às escondidas dos mais velhos, ou entre amigos.

Manuel Sortivão + Batista + ??
As marcas de tabaco que eles usavam eram:
Português Suave – Uma das primeiras marcas da Tabaqueira.
Definitivos – Foram lançados pela Tabaqueira em 1928
Os Provisórios – Foram lançados pela Companhia Portuguesa de Tabaco em 1938. Dizia-se em jeito de brincadeira que “mais vale fumar Definitivos provisoriamente do que Provisórios definitivamente”.
Três Vintes 20-20-20 – 20cigarros, 20gramas, 20centavos.
No exercício do seu comércio, houve ainda aqueles que beneficiaram do chamado “privilégio do sabão”.
O primeiro estanqueiro do sabão foi Manuel Vieira da Rosa nomeado em Maio de 1840. O segundo e ultimo foi Francisco Batista Amado.
Mais tarde, já no começo do século XX, Manuel Vieira da Rosa dedicou-se ao comércio do azeite, ocupação de que seu filho Domingos Vieira da Rosa também chegou a viver temporariamente.
Quem se dedicou por mais tempo e com verdadeira assiduidade a este negócio do azeite, foi José Frazão, no que tinha a preciosa vantagem da propriedade e exploração dum lagar de azeite.
Os Vieira da Rosa
No Alqueidão da Serra era comum existirem muitas pessoas com o mesmo nome, e para as distinguir às vezes colocavam como apelido “Filho”, ou “Júnior” ou “Desenganar”. Quando não eram colocados estes apelidos, então essas pessoas eram distinguidas pelas alcunhas.
Existiam no povoado, pelo menos 3 pessoas com o nome “Manuel Vieira da Rosa”, assim:
Manuel Vieira da Rosa casado com Umbolina Carvalha, teve um filho Domingos Vieira da Rosa que casou com Maria da Silva, estes por sua vez foram pais de Esperança, Maria, Joaquina, Ezequiel, Joaquim, António, Francisco Vieira da Rosa, e Manuel Vieira da Rosa.
Manuel Vieira da Rosa, filho de Domingos Vieira da Rosa e Maria da Silva, casou em Alpedriz com Mariana Rodrigues Gil. Foram pais de Herninia, Pedro, Deolinda, Joaquim Maria e Francisco Vieira da Rosa.
e ainda…
Manuel Vieira da Rosa, marido da Joana de Jesus Biscoita, que foi pai de José (Padre), Domingos Vieira da Rosa (Carmona), Maria de Jesus, Águeda Biscoita e o Francisco (Coiceira).
Qual dos três teria sido o primeiro estanqueiro do sabão?
Obrigado Dulce…è uma delicia ler historias da nossa terra.
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