Retratos de uma Época
Em memória de todos aqueles que aqui viveram antes de nós, e que, de alguma forma, contribuíram para a construção do Alqueidão que temos hoje.
O século XIX começou no dia 1 de janeiro de 1801 e terminou no dia 31 de dezembro de 1900. Avanços medicinais, o conhecimento da anatomia humana e a prevenção de doenças, foram a razão pela qual a população europeia neste período tivesse aumentado de cerca de 200 milhões para mais de 400 milhões.
Nós por cá…
……….1810 a 1811……….
A Terceira Invasão Francesa teve início em Julho de 1810 e terminou em Abril de 1811. Está escrito no mapa, feito pelo prior do Alqueidão que na altura era o Padre Domingos Amado, em obediência à ordem passada pelo Bispo diocesano, D. Manuel de Aguiar, que, no Alqueidão, havia, no princípio do Outubro de 1810, 91 fogos (casas), 121 homens e 146 mulheres.
Pois bem! Nos finais de Junho de 1811, mais de três meses corridos sobre a expulsão dos franceses o que existia resumia-se a isto: 46 casas, 65 homens e 81 mulheres! Informa ainda, o citado mapa que os franceses logo que se apossaram da terra, abateram, sem mais nem quê, 7 pessoas; que, por doença, morreram 115 e que se ausentaram da localidade 14.
Conclui-se que, no Alqueidão da Serra, a terceira Invasão destruiu 45 casas, deu cabo de 56 homens e de 65 mulheres.
.……..1828 a 1834……….
“Lutas Liberais” é o nome vulgarmente dado, na História, às desgraçadas diferenças que surgiram entre dois irmãos, por causa da herança do trono de Portugal, quando foi da morte de D. João VI. Diferenças foram elas que acabaram numa guerra civil que é sempre a mais triste e vergonhosa de todas as guerras que possa haver.
Dum lado, o filho mais velho daquele rei, Dom Pedro, dada a circunstância de o Conselho da Regência o ter dado como rei de Portugal, defendia os seus direitos, com unhas e dentes. Do outro lado, o irmão, D. Miguel, afirmava que o direito à sucessão no Trono e na Coroa lhe pertencia, porque o mais velho se colocou em circunstâncias que o excluíam da herança a que se candidatava. Na verdade, D. Pedro, nessa altura, já tinha sido proclamado Imperador do Brasil, que tornara independente, anos antes.
As coisas foram indo de mal a pior e instalou-se a guerra civil, que durou anos, e que alastrou pelo País inteiro, dividindo-o em duas facções ou partidos:
- O que apoiava D. Pedro chamava-se Constitucional por querer que o País fosse governado pela Carta Constitucional.
- O que seguia D. Miguel, e seguia-o a grande maioria dos portugueses, tinha o nome de Absolutista por defender uma forma de reinar em que a vontade do Rei, apenas era limitada, pelos usos e costumes, tradicionalmente instituídos, e por leis em cuja feitura não interviera, democraticamente, a população.
Estes eram os nomes limpos, nascidos da própria natureza das coisas. Mas depois havia as alcunhas com que, de parte a parte, se insultavam os componentes dos partidos:
- “Burros” eram chamados os sequazes de D. Pedro
- “Corcundas” os partidários de D. Miguel.
Ao contrário do que era de esperar, D. Miguel perdeu.
O que se passou no Alqueidão, nesta época?
Não consta da tradição oral que se tenham verificado questões e desentendimentos entre os habitantes da Freguesia, por uns caírem para um lado e os restantes para o outro, o que não significa que todos pendessem para o mesmo lado. Assim, ou os adversários souberam avir-se convenientemente, ou se perdeu a memória dos desaguisados que se armaram.
Ficou no entanto em dada tradição familiar que D. Miguel teve, no Alqueidão, um dedicado e pronto partidário, que soube manter fidelidade ao seu Rei, até ao fim da sua vida.
Trata-se de Manuel Pereira Roque, o avô Capitão, aquele mocinho que foi na bagagem das tropas napoleónicas em retirada, e que por esse mundo de Cristo fora, passou trabalhos sem nome, mas conseguiu uma riqueza de tal ordem que, nos bons tempos da sua vida, as libras de oiro se medirem pelo meio alqueire, em vez de se contarem.
Era um apaixonado pela política do “Senhor D. Miguel”, como ele dizia sempre, mas quando veio a derrota de D. Miguel em 1834 e, com ela, o fatal abaixamento das suas possibilidades financeiras fortemente abaladas pela generosa contribuição que tinha dado à causa deste Rei, os amigos desapareceram do horizonte das suas relações, caíram-lhe em cima os achaques e, alguns anos passou na cama, tolhido pelo reumatismo, mas não houve infortúnio que lhe desgastasse no ânimo a paixão por D. Miguel.
Hino de D. Miguel cantado pelos netos do Avô Capitão
O livro “Avô Capitão”, romance histórico da autoria de João Amado Gabriel, relata os factos mais importantes da vida de Manuel Pereira Roque, integrado no contexto politico, económico e social da época.
Mas, o Alqueidão também deu homens para as forças militares de D. Pedro IV, ou seja o exército liberal. Eles foram inscritos no Batalhão da Guarda Nacional, com sede em Porto de Mós, segundo consta de um documento do Arquivo Histórico Militar.
……….1837……….

João da Costa Juiz
João da Costa nasceu em 23 de Julho de 1837, na parte da Carreirancha, que pertencia a S. João de Porto de Mós, onde foi baptizado, a 30 de Julho do mesmo ano, pelo prior encomendado, Padre Joaquim de Sousa Amado.
Era filho do segundo matrimónio de António da Costa e de Mariana de Jesus. Os avós paternos, José da Costa e Luísa Maria, foram naturais dos Vales e os avós maternos, Francisco da Silva Cecílio e Maria de Oliveira, ele, da Carreirancha, da parte de S. João, e ela do lugar e freguesia do Alqueidão.
Teve como padrinhos João Gaspar, da Carreirancha e Francisca, “solteira, filha de António dos Santos Ratto, dos Valles”.

Ana da Silva Guia
Casou com Anna da Silva (Ana da Silva Guia), foi pai de 3 filhos: Maria Filomena Silva Amado; Lourenço da Costa e Adelaide da Silva Costa Assis. Era conhecido por João da Costa Juiz. Faleceu em 28 de Agosto de 1924.
O relevo dado a este alqueidanense é devido ao facto de ter sido a última pessoa, natural da área que hoje pertence à Freguesia, a baptizar-se na igreja de S. João. Seguiu-se a unificação da Freguesia.
……….1837……….
A primeira estatística em que a Freguesia se nos apresenta unificada é, com fiel respeito pela ortografia em que a redigiram, a seguinte:
“Anno de 1837
Districto Administrativo: Leiria – Comarca Judiciária: Leiria – Divisão Militar
Freguesia de Alqueidão – Concelho: Porto de Mós – Bispado de Leiria
Denominação das aldeas Casaes e mais povoações com prehendidas no districto da freguesia |
Nº de fogos em cada povoação | Nº de almas em toda a Freguezia | Menores até sete anos | Nº de nasci-mentos | Casa-men-tos |
1º Alqueidão da Serra | 98 | 464 | 117 | 10 | 2 |
2º Azambujal | 5 | ||||
3º Valles | 5 | ||||
4º Casaes dos Valles | 15 | ||||
5º Covão da Olles | 4 | ||||
6º Pia Furada | 1 | ||||
7º Covas Altas | 3 | ||||
8º Bouceiros | 7 | ||||
9º Demó | 3 | ||||
10º Valongo | |||||
11º Lagoa Ruiva | 3 | ||||
12º Cazal do Duro | 6 | ||||
Soma Total | 156 |
1º Quaes sejam as freguesias confinantes, qual a distância de cada uma de suas parochias a esta?
2º Cabeça de Concelho: Leiria
Cabeça da Comarca: Leiria
Sede do Bispado: Leiria
3º Se esta Parochia se acha reunida a outra deste Concelho ou outras a esta?
– Esta parochia confina com a Damira, da qual dista Legoa, emeia, com ado Reguengo, de que dista meia Legoa, com a de S. João de Porto de Mos, deque dista também meia Legoa; não se acha reunida aoutra, nem outras a ella, sim lhe forão reunidos alguns logares que pertencião a freguesia de S. João de Porto de Mos, dista da cabeça da Comarca, e sede de Bispado três Legoas.
Assignatura do Parocho: O Cura João Vieira
Alqueidão da Serra, 24 de Fevereiro de 1838
Manoel + Vieira Sarrano, Presidente da Junta de Parochia”.
(Arquivo do Ministério das Obras Públicas – Comissão de Estatística e Cadastro do Reino.)
É preciso fazer aqui uma emenda. A correcção vai direita ao parágrafo 2º das observações e manda escrever Porto de Mós, em vez de Leiria. O Alqueidão deixou a tutela administrativa de Leiria e passou à de Porto de Mós, sob a qual se manteve durante perto de sessenta anos que foram interrompidos pela extinção do Concelho, voltando, em consequência disso, a Leiria.
……….1856……….
Franceses e ingleses manifestaram interesse em pesquisar o carvão e o ferro no concelho de Porto de Mós. Consta dos livros de Acórdãos da Câmara Municipal.
O inglês George Croft realizou trabalhos pelo menos no Alqueidão da Serra. Pertence-lhe a escavação que foi praticada no Cabo da Várzea, numa fazenda que foi propriedade de Francisco Pereira Roque. Nela fez abrir uma mina que permaneceu aberta por muito anos apesar das sucessivas derrocadas. Nela se metiam coelhos fugidios de cães e de caçadores.
José Vieira da Rosa, do trato que em moço manteve com o capataz da exploração, ficou a saber que “o inglês” afirmava existir muito ferro lá no fundo, mas que a água não permitia explorá-lo.
……….1858……….
Lutas pelo acesso à água
Ata da sessão da Câmara
“Nesta, sessão de 10 de Outubro de 1858, a Camara nomiou huma commissão constituida dos seguintes cidadãos: Domingos Vieira Pedro, José Pedro Sanches, Francisco Baptista Amado, Francisco Pereira Roque, Francisco Vieira Gaspar, António da Silva Esteves, João Coelho Pereira, todos do Alqueidão, que nomiarão entre si Presidente, Secretário e Thezoureiro para dirigir, obter os meios e levar a cabo uma nova fonte e milhoramentos na antiga, sita próximo ao referido lugar do Alqueidão, cuja incapacidade esta Camara reconheceu na vistoria a que procedeo a requerimento dos povos daquele lugar”.
Nesta altura a fonte que necessitada de melhoramentos ficava no Caminho do Ribeiro, e, antes que alguém repare corro a dizer que a Câmara, que não oferecia qualquer verba, ainda encarregava outros de a obterem.
……….1861……….
Deve ter sido em meados de 1861 que o Padre Afonso tomou conta da Freguesia de Alqueidão da Serra, e por aqui ficou durante 35 anos. Criou uma escola, da qual era ele o único professor, foi presidente da Junta, criou melhores condições de vida para as pessoas, e devolveu o brio e a dignidade à freguesia de Alqueidão da Serra.
O Padre Afonso paroquiou a Freguesia pelo menos, desde meados de 1861 até perto do final de 1894, tendo voltado ao cargo em Setembro de 1898 até Agosto de 1899.
……….1863……….
Pela estatística de 1863, publicada por Tito Larcher no “Leiria Ilustrada”, havia no Alqueidão as seguintes profissões e estabelecimentos:
PROFISSÕES | Nº | ESTABELECIMENTOS | Nº | |
Bufarinheiros (mulheres) | 4 | Estancos | 2 | |
Bufarinheiros (homens) | 2 | Lojas de fanqueiros e mercearia | 2 | |
Negociantes de cereais | 6 | Padarias | 7 | |
Tabernas | 4 |
- Bufarinheiros eram vendedores ambulante de bugigangas ou coisas de pouco valor.
- Estancos eram lojas de venda de tabaco em regime de monopólio ou semelhante.
- Negociantes de cereais: Nos finais de 1919, Domingos Vieira Pedro, Francisco Vieira e Pedro Vieira Patrão, comissionados por José Vieira da Rosa (ao tempo emigrado na América do Norte) adquiriram azeite, figo seco, cortiça e castanha, a exportar para aquele país.
………..1864……….
Estatística
Ano | 1864 | 1878 | 1890 | 1900 | ||
Fogos | 212 | 227 | 286 | 285 | ||
População Residente | 842 | 958 | 1072 | 1169 |
Em 1864 a Freguesia tinha 407 pessoas do sexo masculino e 455 do feminino. No ano de 1900, existiam 561 do sexo masculino e 619 do feminino. (dados do Instituto Nacional de Estatística)
………..1872……….
Foi o Sr. Padre Afonso quem pediu e obteve do Papa Pio IX, em 11 de Junho de 1872, os tão valiosos privilégios espirituais que se desfrutam no Jubileu de S. José, santo cuja devoção somos obrigados a viver, mais do que ninguém, visto ser o orago da nossa Freguesia.
Bula de São José (traduzido do latim)
“Para aumento da religião dos fiéis e salvação das almas. Nós, por pia caridade, atendendo aos celestes tesouros da Santa Igreja, a todos e a cada um dos fieis cristãos dum e doutro sexo, verdadeiramente arrependidos de seus pecados, que visitarem a Igreja de Alqueidão da Serra, dedicada a S. José, esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria, desde primeiras vésperas até ao pôr-do-sol do terceiro domingo depois da Páscoa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, e aí tendo-se primeiro confessado e comungado, orarem pela concórdia dos príncipes cristãos, pela extirpação das heresias, e pela exaltação da Santa Madre Igreja, concedemos misericordiosamente no Senhor indulgência plenária e remissão de todos os seus pecados, indulgência esta, que se pode aplicar por modo de sufrágio por aquelas almas que unidas a Deus pela caridade, partiram deste mundo e estão detidas no Purgatório. As presentes letras perpetuamente terão vigor nos tempos presentes e futuros, não obstando qualquer coisa que haja ou houver em contrário. Dada em Roma, junto de S. Pedro, debaixo do anel do Pescador, a 11 de Julho de 1872, vigésimo sexto do nosso pontificado.”
………..1873……….
Assento de Batismo
Nº 12
Agosto Dias – 10 Anno 1873
Alqueidão
Lourenço, filho de João da Costa Juiz e de Anna da Silva |
Aos dez dias do mez de Agosto de mil oitocentos setenta e tres, nesta Igreja Parochial de S. José do Alqueidão da Serra, concelho de Porto de Mós, districto Ecclesiástico do mesmo, e Diocese de Leiria, eu o Presbytero Manoel Affonso e Silva, Parocho desta mesma freguesia, baptizei solemnemente e puz os Santos Oleos a uma creança do sexo masculino a que dei o nome de Lorenço, que nasceu pelas seis horas da manhan do dia vinte e dois do mez de Junho do dito anno, filho legitimo, primeiro deste nome, de João da Costa e de Anna da Silva, recebidos na freguesia de S. José do Alqueidão, parochianos desta, e moradores no Alqueidão, neto paterno de António da Costa Juiz e de Maria d’Oliveira e materno de Patricio da Silva e de Francisca Ignácia, Padrinhos José da Silva, solteiro e morador na cidade de Lisboa, que deu procuração a Francisco Pereira Roque, desta freguesia, Felismina da Silva, casada e moradora na cidade de Lisboa, que deu procuração a Manoel da Silva Furriel desta freguesia. Para que fizessem as suas vezes no Baptismo do seu afilhado tocando-o e tirando-o da Pia Baptismal, aos quaes todos conheço serem os próprios. E para constar lavrei em duplicado o presente assento, que depois de lido e conferido perante os padrinhos por procuração, por não saberem escrever somente eu assigno. Era ut supra.
O Parocho Manoel Affonso e Silva |
A criança, a quem este assento de baptismo diz respeito, usou – tornando-o ilustre e respeitado – o nome de Lourenço da Costa. O que é necessário deixar aqui bem expresso é que os serviços de enfermagem por ele prestados, a qualquer pessoa da Freguesia, não só eram rigorosamente gratuitos, e em casa dos interessados, mas também corriam por conta do seu bolsinho particular os encargos provenientes de desinfectantes (álcool, tintura de iodo e mercurocromo), de algodão em rama, ligaduras, etc.

Foto de família
……….1876……….
Assento de Batismo
Junho
Dias – 1 Anno 1876
Alqueidão
Júlio, filho de José Pereira Roque e de Maria do Rosário |
Ao primeiro dia do mez de Junho de mil oito centos e setenta e seis, nesta egreja parochial de S. José da freguesia do Alqueidão da Serra, concelho de Porto de Moz, Destricto Ecclesiastico do mesmo e Diocese de Leiria, o Presbytero Manoel Affonso e Silva, digo, o Reverendo Manoel Gomes Mendes baptizou solemnemente, e poz os Santos Oleos a uma creança do sexo masculino a quem deu o nome de Julio, que nasceu pelas onze horas da manhã do dia vinte e sete do mez de Maio do dito anno, filho legitimo, primeiro deste nome, de Jose Pereira Roque, e de Maria do Rosario, recebidos na freguezia do Alqueidão da Serra parochianos desta e moradores no Alqueidão, neto paterno de Manoel Pereira Roque, e de Maria Correia, e materno de Francisco Baptista Amado, e de Maria de Jesus. Foram padrinhos o Padre Manoel Affonso e Silva, e Maria de Jesus Joanna, casada, ambos moradores no Alqueidão, que conheço serem os proprios. E para constar lavrei em duplicado o presente accento que depois de lido e conferido perante os padrinhos o assigno. Era ut supra.
O Parocho Manoel Affonso e Silva |

Padre Júlio Pereira Roque
Esta é a certidão de nascimento e registo de baptismo é daquele que foi conhecido por Júlio Pereira Roque, e pelo pseudónimo jornalístico de Jupero.
Filho de gente modesta quanto a bens de fortuna, mas, de todos respeitada na roda da Freguesia, por conta do seu irrepreensível procedimento cívico, moral e religioso, cedo começou a dar mostras de bem definida vocação para a vida eclesiástica. Nisto, há-de ter influído, de maneira decisiva, a educação familiar e a convivência com o pároco da Freguesia, o sempre lembrado Padre Manuel Afonso e Silva.
Não obstante a sua decidida vocação e o tão claro chamamento para o sacerdócio, verifica-se que já passava dos quinze anos quando entrou para o Seminário. A principal razão disso está no facto de ter nascido com pouco famosa robustez física. Enfermiço permanente, lá chegou, todavia, a conseguir saúde que lhe permitisse seguir os caminhos do seu ideal, graças aos extraordinários e persistentes cuidados familiares, traduzidos na zelosa aplicação de mezinhas caseiras e na dos eficazes tratamentos receitados pela ciência médica da época.
O padre Júlio destaca-se pelo seu empenho na Restauração da Diocese de Leiria na qual teve um papel decisivo.
………1878……….
Foi em 6 de Dezembro de 1878 que o cemitério paroquial principiou seus fúnebres préstimos. Até aqui os defuntos eram sepultados no Adro.
Tem a data de 6 de Dezembro de 1878 o auto de falecimento e de enterro de “Maria, de cinco meses”, filha de José Vieira Santana e de Maria Joaquina, neta paterna de Manuel Vieira Santana e de Luiza Carreira e materna de António da Silva Esteves e de Joaquina da Silva. Pela primeira vez na história da Freguesia, o Auto de Falecimento refere que “foi sepultada no cemitério publico”.
………1879……..
A estrada que ligou o Alqueidão a Porto de Mós, e por conseguinte, ao resto do País, quebrando, assim, um velhíssimo isolamento completo, nasceu na sessão da Câmara de Porto de Mós, que se realizou a 13 de Junho de 1879, já o Alqueidão e lugares eram Freguesia, como hoje. A construção desta estrada demorou 90 anos.
………1881…….
Assento de Batismo
Nº 2
Março Dias – 8 Anno 1881
Alqueidão
Francisco, filho de Domingos Vieira da Rosa e de Maria da Silva |
Aos oito dias do mez de Março do anno de mil oito centos oitenta e um na Igreja Parochial de S. José da freguezia do Alqueidão da Serra, Concelho de Porto de Moz, Districto Ecclesiastico do mesmo, e Diocese de Leiria, eu o Presbytero Manoel Affonso e Silva Parocho da mesma freguezia, baptisei solemnemente e puz os Santos Oleos a uma criança do sexo masculino a que a dei o nome de Francisco, que nasceo pelas Cinco da tarde do dia vinte e sete do mez de fevereiro do dicto anno, filho legitimo de Domingos Vieira da Rosa, e de Maria da Silva, recebidos nestas freguezia do Alqueidão, parochianos desta, e moradores no Alqueidão; neto paterno de Manoel Vieira da Rosa, e de Umbolina Carvalha; e materno de Manoel Jorge Furriel, e de Francisca da Silva.
Padrinhos Francisco Vieira Patrão, solteiro, e Maria da Silva Cantella, casada, ambos moradores no Alqueidão aos quais todos conheço serem os próprios. E para constar lavrei em duplicado o presente assento que depois de lido e conferido perante os padrinhos e por não saberem escrever somente eu assigno. Era ut supra. O Parocho Manoel Affonso e Silva |
A criança, a quem este assento de baptismo diz respeito, veio a ser o padre Francisco Vieira da Rosa. Chamavam-lhe “o Claro”, e esta alcunha era filha legítima duma particularidade física da qual já veio acompanhado ao nascer: a brancura da sua pele. Sendo a tez morena, predominante no Alqueidão era notória a brancura invulgar da sua pele.
………1883…….
Assento de Batismo
Nº 14
Agosto Dias – 8 Anno 1883
Alqueidão
Affonso, filho de Cláudio Vieira Dionisio e de Thereza Affonsa |
Aos oito dias do mez de Agosto do anno de mil oitocentos oitenta e três, na Igreja Parochial de S. Jose da freguesia do Alqueidão da Serra, concelho de Porto de Moz, Districto Ecclesiastico do mesmo, e diocese de Lisboa, eu o Presbytero Manoel Gomes Mendes, Capellão em S. Mamede do Reguengo do Fetal com commissão do Parocho Manoel Affonso e Silva, baptisei solemnenmente e puz os Santos Oleos a uma creança do sexo masculino, a quem dei o nome de Affonso, que nasceo pelas onze horas da manhã do dia cinco do dicto mez e anno, filho legitimo, primeiro deste nome, de Claudio Vieira Dionisio e Thereza Affonsa, recebidos na freguesia do Alqueidão, parochianos desta, e moradores no Alqueidão. Neto paterno de Francisco Vieira Dionizio e de Maria Correa; e materno de João da Costa e de Anna Fructuoza Affonsa. Padrinhos Manoel Affonso e Silva, Parocho desta freguezia, e de Thereza Affonsa, solteira, ambos moradores no Alqueidão, os quais todos conheço serem os próprios. E para constar lavrei em duplicado o presente assento que depois de lido e conferido perante os padrinhos o assigno com Padrinho. Era ut supra.
O presbytero a) Manoel Gomes Mendes O Padrinho a) Manoel Afonso e Silva |
A criança a quem este assento de Batismo diz respeito, veio a ser o Comandante Afonso Vieira Dionísio, e foi uma das três crianças que foram apadrinhadas no baptismo, pelo austero e inesquecível pároco da Freguesia que se chamou Manuel Afonso e Silva. As outras chamavam-se Júlio Pereira Roque, e Afonso Candeias Duarte.
Nasceu na rua que, hoje, tem o nome de Comandante Afonso Vieira Dionísio ou seja, a primeira, à mão direita de quem, pela Rua do P.e Júlio Pereira Roque, segue para Norte.
Aqui viveu e se criou, da mesma maneira que as outras crianças crianças, visto que os pais dele não tinham meios para lhe darem condições diferentes do corrente na Freguesia. Guardou ovelhas e cabras, para auxílio da vida familiar, na companhia de tantos da sua idade. Um dia, já rapaz crescido, seus pais decidiram partir do Alqueidão à procura de meios de vida noutra localidade. A escolha caiu em Famalicão da Nazaré.
……..1883……….
A primeira referência à criação duma escola primária na Freguesia, aparece na acta da sessão camarária de 17 de Agosto de 1883. Num dos seus acórdãos, lê-se:
“A Câmara e a Junta escolar, em virtude do officio do Ex.mo Governador Civil, appresentado na sessão anterior, que diz respeito ao plano provisorio das escolas primarias deste Concelho, na forma do disposto no artigo 75 da Lei de dois de Maio de 1878, deliberou que no mappa, que deve ser enviado ao inspector de instrucção primaria se mencionasse não só as escolas antigas, e já creadas nas localidades deste Concelho, mas tambem as que de novo vão ser creadas nas freguesias onde não há escolas oficiaes a saber Alqueidão da Serra, Serro Ventoso e Mira, cujo plano foi elaborado, approvado e se mandou remeter ao referido Inspector.”
O Alqueidão, nesta altura tinha unicamente as aulas do Padre Afonso. O local das aulas era em casa do Padre Afonso ou ao ar livre quando estava bom tempo.
A escola primária elementar, para o sexo masculino, só veio a ser uma realidade em 17 de Dezembro de 1894.
……..1889……….
A fundação do Apostolado da Oração na nossa freguesia data de 1889. A missa da primeira sexta-feira de cada mês aplicada segundo as intenções dos associados. Em caso de óbito, a associação mandava rezar seis missas pelo falecido.
………1890……….
Nesta altura a água da chuva era armazenada em poços e pias, e existia a nascente da Mina (Lagar) que tinha água para as necessidades da população.
A mineração de água praticou-se, pela primeira vez, (excluindo o caso do “Lagar”), no ano de 1890, por iniciativa do Padre Joaquim Vieira da Rosa que mandou abrir um poço num sítio da Várzea que se chamava “Coleana”.
Esta decisão foi largamente criticada pelo Padre Afonso, em termos de pouco gabo para a inteligência de quem a tomou.
Mas o que é facto é que a água apareceu, esperta, cristalina e fresca, no fundo da tão criticada escavação da Coleana.
Facto é, também, ter-se decidido o implacável crítico a mandar proceder à abertura do seu poço, no Prazo, com menos sorte porque ele, além de mais fundo, tinha menor veia de água.
De então por diante, vários outros se foram cavando nos arredores da Coleana e por ali fora, no espaço que medeia entre esta e o Prazo. Em 1964, o número de poços subia a trinta e dois.
Registem-se também as tentativas do mesmo género levadas a cabo em mais alguns sítios. Foi a de José Frazão e a de Abílio Correia Marto em suas propriedades no “Ribeiro”; a de João Carvalho em suas terras do “Falgar” e a de Francisco Calvário na sua fazenda de “Baixo da Eira”. Nenhuma destas experiências teve a recompensa do êxito no encontro da água pretendida.
O mesmo se verificou com mais duas tentativas levadas a efeito para utilidade pública, em locais separados pela distância e distintos por natureza: uma junto à Barreira e a outra em propriedade que pertenceu a Alfredo Vieira Dionísio e que tem acesso ao Pelingrim, a Poente.
………1890……….
Assento de Batismo
A criança a quem este assento de nascimento diz respeito veio a ser o Padre Manuel Frazão.
Foi pároco da freguesia da Vila do Paço, Torres Novas. Foi Capelão Militar na guerra 1914/1918.
Tinha clara tendência para a música. Foi o Padre Manuel Frazão que tocou o órgão nas solenidades realizadas na Sé Catedral de Leiria, quando o Sr. D. José Alves Correia da Silva fez a entrada solene na diocese.
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Pelo Censo de 1890, o Alqueidão tinha 286 fogos e 1012 habitantes.